“São velhos, querida. A vida manipulou-os, sugou-lhes tudo da alma até ficarem só um tubo digestivo.”
“A morte só é terrível quando a vemos da vida, quando entre nós e o seu nada há um tudo a perder.”
“E, todavia como é difícil explicar-me! Há no homem o dom perverso da banalização. Estamos condenados a pensar com palavras, a sentir com palavras, se queremos pelo menos que os outros sintam connosco. Mas as palavras são pedras.”
“Deus fez-nos cheios de buracos na alma e o nosso dever é tapá-los todos para navegar. O homem é um bêbedo sempre encostado à parede ou uma criança a fazer tem-tem. Toda a grandeza é um investimento em nós próprios e é por isso que os grandes têm uma grande solidão.”
“No mais pequeno intervalo cabe a vida toda e dentro da vida é-se eterno (...)”
“(...) o peso da dor nada tem que ver com a qualidade da dor. A dor é o que se sente. Nada mais. Desisto definitivamente de me iludir com a minha força de adulto sobre o peso de uma amargura infantil. Exactamente porque toda a vida que tive sempre se me representa investida da importância que em cada momento teve. Como se eu jamais tivesse envelhecido. Exactamente porque só é fútil e ingénua a infância dos outros - quando se não é já criança.”
“Regresso a mim, ao meu corpo distinto e classificável onde todo o milagre aconteceu. E pergunto-me, suspenso, como foi possível, como é que uma breve semente abriu assim até essa Voz, até ao silêncio donde essa Voz falou. Frente ao grande sono dos homens que o esqueceram, na atenção inexorável ao sem limite de mim, a minha vigília arde como um fogo assassino. É um fogo alto e poderoso. Lume breve na minha intimidade, na brevidade de um pequeno ser, eu, anónimo e avulso, ocasional e frágil – eu.”