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Al Berto

Al Berto, pseudonym of Alberto Raposo Pidwell Tavares, was a poet, painter, editor and cultural worker.

He was born in an high class burgeois family (with english origins from his grandmother). A year later he moved to Alentejo and in Sines he gets through all his childhood and teenagehood until his family sent him to the arts school António Arroio in Lisbon.

14th of April 1967, he went to study paiting in Belgium at the École Nationale Supérieure d’Architecture et des Arts Visuels, in Brussels.

After getting his degree, he decided to abandon painting in 1971 and get dedicated exclusively to writting. He comes back to Portugal at 17th November 1974 and at that time, writes his first book entirely in portuguese, Á procura do Vento num Jardim d'Agosto".

O medo, an anthology of his work from 1974 until 1986, is edited for the first time at 1987. It became his most important masterpiece and his definitive artistic testemony.

He left some incomplete texts for an opera, for a photography book about Portugal and "a false biography, as he called it.

For more information, in portuguese, go to: Wikipedia.


“Dia da Criação da Noite por Carlos Nogueira“estavam os homens as águas os animais e as terrascansados de luz e de não haver noite levantei as mãos fiz rodar a terra para que se retirasse o sol enrolei os dedos nas últimas fulgurações teci com os cintilantes fios a misteriosa linguagem dos astrosdepois fui pela escura abóbada estendi a fantástica tapeçaria para que lá em baixo ninguém perdesse o seu caminho e nela pudesse adivinhar o doloroso humano destinoa noite ficou assim tão habitada quanto a terra os homens podem hoje sonhar com aquilo que mal entendem e quando o medo atribuiu nomes àquele luzeiro dei por terminada a obra cortei os fios como se cortasse um pedaço de mim fui para outro hemisfério adormecer o dia construir a pirâmide o quadrado o círculo a linha recta as cores do mundo e dar vida a outras incandescentes criaturas”in A Secreta Vida das Imagens III (1984/85) de O Medo”
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“— lentamente os dedos aperfeiçoam esta arte de estarem quietossussurrantes sobre os corpos não a deslizaremnão a percorrerem os lugares antigos onde o desejo pulsaas mãos redescobriram o silênciopraticam essa arte muito antiga de na imobilidade tudo desejarem”
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“— temos o voo do coração na ponta dos dedos na garganta ficou-nos um travo acetinado de corpos um rasto prateado de correrias pela cidade”
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“deus tem que ser substituído rapidamente por poe-mas, sílabas sibilantes, lâmpadas acesas, corpos palpáveis,vivos e limpos.a dor de todas as ruas vazias.sinto-me capaz de caminhar na língua aguçada destesilêncio. e na sua simplicidade, na sua clareza, no seu abis-mo.sinto-me capaz de acabar com esse vácuo, e de aca-bar comigo mesmo.a dor de todas as ruas vazias.mas gosto da noite e do riso de cinzas. gosto dodeserto, e do acaso da vida. gosto dos enganos, da sorte edos encontros inesperados.pernoito quase sempre no lado sagrado do meu cora-ção, ou onde o medo tem a precaridade doutro corpo.a dor de todas as ruas vazias.pois bem, mário - o paraíso sabe-se que chega a lis-boa na fragata do alfeite. basta pôr uma lua nervosa nocimo do mastro, e mandar arrear o velame.é isto que é preciso dizer: daqui ninguém sai semcadastro.a dor de todas as ruas vazias.sujo os olhos com sangue. chove torrencialmente. ofilme acabou. não nos conheceremos nunca.a dor de todas as ruas vazias.os poemas adormeceram no desassossego da idade.fulguram na perturbação de um tempo cada dia maiscurto. e, por vezes, ouço-os no transe da noite. assolam-meas imagens, rasgam-me as metáforas insidiosas, porcas. ..enada escrevo.o regresso à escrita terminou. a vida toda fodida - ea alma esburacada por uma agonia tamanho deste mar.a dor de todas as ruas vazias.”
Al Berto
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