Augusto dos Anjos photo

Augusto dos Anjos


“Uma tarde de abril suave e puraVisitava eu somente ao derradeiroLar; tinha ido ver a sepulturaDe um ente caro, amigo verdadeiro.Lá encontrei um pálido coveiroCom a cabeça para o chão pendida;Eu senti a minh'alma entristecidaE interroguei-o: "Eterno companheiroDa morte, quem matou-te o coração?" Ele apontou para uma cruz no chão, Ali jazia o seu amor primeiro!Depois, tomando a enxada, gravemente, Balbuciou, sorrindo tristemente:- "Ai, foi por isso que me fiz coveiro!”
Augusto dos Anjos
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“Vês! Ninguém assistiu ao formidávelEnterro de tua última quimera.Somente a Ingratidão - esta pantera -Foi tua companheira inseparável!Acostuma-te à lama que te espera!O Homem, que, nesta terra miserável,Mora, entre feras, sente inevitávelNecessidade de também ser fera.Toma um fósforo. Acende teu cigarro!O beijo, amigo, é a véspera do escarro,A mão que afaga é a mesma que apedreja.Se a alguém causa inda pena a tua chaga,Apedreja essa mão vil que te afaga,Escarra nessa boca que te beija!”
Augusto dos Anjos
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