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Caio Fernando Abreu

Caio Fernando Loureiro de Abreu nasceu no dia 12 de setembro de 1948, em Santiago, no Rio Grande do Sul. Jovem ainda mudou-se para Porto Alegre onde publicou seus primeiros contos. Cursou Letras na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, depois Artes Dramáticas, mas abandonou ambos para dedicar-se ao trabalho jornalístico no Centro e Sul do país, em revistas como Pop, Nova, Veja e Manchete, foi editor de Leia Livros e colaborou nos jornais Correio do Povo, Zero Hora, O Estado de São Paulo e Folha de São Paulo.

No ano de 1968 — em plena ditadura militar — foi perseguido pelo DOPS (Departamento de Ordem Política e Social), tendo se refugiado no sítio da escritora e amiga Hilda Hilst, na periferia de Campinas, São Paulo.

Considerado um dos principais contistas do Brasil, sua ficção se desenvolveu acima dos convencionalismos de qualquer ordem, evidenciando uma temática própria, juntamente com uma linguagem fora dos padrões normais.

Em 1973, querendo deixar tudo para trás, viajou para a Europa. Primeiro andou pela Espanha, transferiu-se para Estocolmo, depois Amsterdã, Londres — onde escreveu Ovelhas Negras — e Paris. Retornou a Porto Alegre em fins de 1974, sem parecer caber mais na rotina do Brasil dos militares: tinha os cabelos pintados de vermelho, usava brincos imensos nas duas orelhas e se vestia com batas de veludo cobertas de pequenos espelhos. Assim andava calmamente pela Rua da Praia, centro nervoso da capital gaúcha.

Em 1983 transferiu-se para o Rio de Janeiro e em 1985 passou a residir novamente em São Paulo. Volta à França em 1994, a convite da Casa dos Escritores Estrangeiros. Lá escreveu Bien Loin de Marienbad.

Ao saber-se portador do vírus da AIDS, em setembro de 1994, Caio Fernando Abreu retorna a Porto Alegre, onde volta a viver com seus pais. Põe-se a cuidar de roseiras, encontrando um sentido mais delicado para a vida. Foi internado no Hospital Menino Deus, onde posteriormente veio à falecer.


“Quis contar, não valia a pena. Ninguém entenderia.”
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“I am trying to quit smoking.Me too. But, I'd like something in my hands now.You have something in your hands now.Me?Me.”
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“No início você briga, chora, faz drama mexicano. Então percebe que é cansativo demais manter esse jeito de levar as coisas. Acostuma-se… Não que pare de doer, mas que cai no seu entendimento que às vezes perdemos algo e não há solução. No fim você coloca um sorriso no rosto e finge que é sincero, até que a vida o faça realmente ser. Talvez os amores eternos sejam amenos e os intensos, passageiros. É isso.”
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“Ah, mas tudo bem. Com o tempo, todo mundo se acostuma. As pessoas esquecem umas das outras com tanta facilidade. Como é mesmo que minha mãe dizia? Quem não é visto, não é lembrado. Longe dos olhos, longe do coração. Pois é.”
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“‎- Tô me sentindo estranho hoje...- Por que?- Sei lá, hoje acordei com vontade de tudo que, com muito esforço, eu deixei de gostar...- Cigarros?- Também!- Do que mais?- Você.”
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“Eu não quero que seja pra sempre, nem que seja certo. Só quero que seja.”
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“[...]eu nunca tive porra de ideal nenhum, eu só queria era salvar a minha, veja só que coisa mais individualista elitista capitalista, eu só queria era ser feliz, cara, gorda, burra, alienada e completamente feliz.”
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“A vida é uma ponte entre dois nadas, e tenho pressa.”
Caio Fernando Abreu
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“Ando meio fatigado de procuras inúteis e sedes afetivas insaciáveis.”
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“Que não suspeitará da tua perdição mergulhado como agora, a teu lado, na contemplação dessa paisagem interna onde não sabes sequer que lugar ocupas, e nem mesmo se estás nela.”
Caio Fernando Abreu
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“Meditarias: as pessoas falam coisas, e por trás do que falam há o que sentem, e por trás do que sentem há o que são e nem sempre se mostra. Há os níveis não formulados, camadas imperceptíveis, fantasias que nem sempre controlamos, expectativas que quase nunca se cumprem e sobretudo como dizias, emoções.”
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“Como seria tão bom se pudéssemos nos relacionar sem que nenhum dos dois esperasse absolutamente nada, mas infelizmente insistirás, infelizmente nós, a gente, as pessoas, têm, temos - emoções.”
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“Tem coisa mais autodestrutiva do que insistir sem fé nenhuma?”
Caio Fernando Abreu
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“Cultura demais mata o corpo da gente, cara, filmes demais, livros demais, palavras demais,... tinha biblioteca de Alexandria separando nossos corpos.”
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“Queria tanto que alguém me amasse por alguma coisa que eu escrevi.”
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“O mais interessante em tia Violeta é que ela não tinha um canteiro de violetas.”
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“Devia ser sábado, passava da meia-noite.Ele sorriu para mim. E perguntou:- Você vai para a Liberdade?- Não, eu vou para o Paraíso.Ele sentou-se ao meu lado. E disse.- Então eu vou com você.”
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“Então, que seja doce. Repito todas as manhãs, ao abrir as janelas para deixar entrar o sol ou o cinza dos dias, bem assim, que seja doce. Quando há sol, e esse sol bate na minha cara amassada do sono ou da insônia, contemplando as partículas de poeira soltas no ar, feito um pequeno universo; repito sete vezes para dar sorte: que seja doce que seja doce que seja doce e assim por diante. Mas, se alguém me perguntasse o que deverá ser doce, talvez não saiba responder. Tudo é tão vago como se fosse nada.”
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“Às vezes me lembro dele. Sem rancor, sem saudade, sem tristeza. Sem nenhum sentimento especial a não ser a certeza de que, afinal, o tempo passou. Nunca mais o vi, depois que foi embora. Nunca nos escrevemos. Não havia mesmo o que dizer. Ou havia? Ah, como não sei responder as minhas próprias perguntas! É possível que, no fundo, sempre restem algumas coisas para serem ditas. É possível também que o afastamento total só aconteça quando não mais restam essas coisas e a gente continua a buscar, a investigar — e principalmente a fingir. Fingir que encontra. Acho que, se tornasse a vê-lo, custaria a reconhecê-lo.”
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“De vez em quando eu vou ficar esperando você numa tarde cinzenta de inverno, bem no meio duma praça, então os meus braços não vão ser suficientes para abraçar você e a minha voz vai querer dizer tanta, mas tanta coisa que eu vou ficar calada um tempo enorme. só olhando você, sem dizer nada só olhando e pensando: “meu Deus, mas como você me dói de vez em quando…”
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“-Você tem um cigarro?-Estou tentando parar de fumar.-Eu também. Mas queria uma coisa nas mãos agora.-Você tem uma coisa nas mãos agora.-Eu?-Eu.”
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“Era domingo. Se fumasse, acenderia agora um cigarro para ficar com ar de pessoa distraída. Mas assim tão sem vícios e portanto sem ter sobre o que derramar a distração que desejava, ai - assim ficava tão solta. Perdi até o sono, suspirou, como se o sono fosse a sua última reserva de segurança. E estou compreguiça de trabalhar e tenho vontade de falar uma palavrão, que merda também.”
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“O disco tá tocando de novo, já ouvi esse pedaço.- É que ele parece assim todo igual.Que nem chuva.”
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“então me vens e me chegas e me invades e me tomas e me pedes e me perdes e te derramas sobre mim com teus olhos sempre fugitivos e abres a boca para libertar novas histórias e outra vez me completo assim, sem urgências, e me concentro inteiro nas coisas que me contas, e assim calado, e assim submisso, te mastigo dentro de mim enquanto me apunhalas com lenta delicadeza deixando claro em cada promessa que jamais será cumprida, que nada devo esperar além dessa máscara colorida, que me queres assim porque é assim que és...À beira do mar aberto”
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“Quando se deseja realmente dizer alguma coisa, as palavras são inúteis. Remexo o cérebro e elas vêm, não raras, mas toneladas. Deixam sempre um gosto de poeira na boca - a poeira do que se tentava expressar, e elas dissolveram. Quanto mais palavras ocorrem para vestir uma idéia, mais essa idéia resiste a ser identificada. As sucessivas roupas sufocam a sua nudez. E todas as palavras são uma grande bolha de sabão, às vezes brilhante, mas circundando o vazio.”
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