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Joaquim Mestre

Joaquim Figueira Mestre, nasceu em Trindade, concelho de Beja. Foi licenciado em História pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e pós-graduado em Ciências Documentais pela mesma universidade.

Gostava de ler e sonhar, de comer e beber, de amar e viajar. E de escrever, também. Por isso é autor de um livro de contos O Livro do Esquecimento (2000) e do romance A Cega da Casa do Boiro (2001). É, ainda, director das revistas Rodapé e Pé de Página. Viveu no Alentejo, ermo a que alguns chamam a sua casa e onde as pessoas andam com o sol nas mãos e a lonjura no olhar. Viveu num monte onde tem uma vinha e sonhava um dia fazer um grande vinho. Era director da Biblioteca Municipal de Beja.

Joaquim Figueira Mestre venceu 7.ª edição do Prémio Nacional de Conto Manuel da Fonseca, com a colectânea de contos Breviário das Almas.

Morreu na cidade de Lisboa, em 3 de Maio de 2009, devido a um cancro. O funeral teve lugar em 5 de Maio, na cidade de Beja.

Em sua homenagem, a Associação de Escritores do Alentejo criou o Prémio Literário Joaquim Mestre, lançado em 23 de Abril de 2017, no âmbito das comemorações do Dia Mundial do Livro e do Direito de Autor.


“Onde terá ficado aquela criança que apenas conhece da fotografia e cuja memória há muito se perdeu na sedimentação dos dias? Não se recorda quando se separaram. Quando um deixou de ser o outro. Onde está nele aquela criança? O homem que é hoje é o resultado de todos os dias daquela criança? E se os dias tivessem sido outros, seria outro homem? Se ele pudesse apagar alguns dias, seriam todos os outros suficientes para para ele ser quem hoje é? Apagar alguns dias. Apagar um dia, que fosse aquele dia. Será o homem apenas o conjunto das suas memórias ou será antes a soma de todos os seus esquecimentos?”
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“Olharam-se nos olhos, como se estivessem nus, um frente ao outro. Despidos e frágeis, como se está sempre diante da possibilidade do amor. Em frente da certeza de que o amor começa a morrer no preciso instante em que dizemos, amo-te. O amor é apenas esse momento.”
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“Ela aproveitou para se aproximar, silenciosa, como se caminhasse no sonho daquela tarde, com se tivesse medo de fazer um ruído e que a sua visão desaparecesse, como quando estamos a sonhar e não queremos acordar, queremos estar naquela felicidade sonâmbula, naquele tempo sem palavras, mas onde as imagens estão dentro de nós, e nós vemo-las. Ou sentimo-las?”
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“Os últimos fregueses já saíram e apenas um bêbedo insiste em beber mais um copo. Aquela insistência irritante dos bêbedos. A sua voz entaramelada ouve-se de forma sincopada, como se lhe faltassem as palavras ou também elas estivessem embriagadas e saíssem aos trambolhões, encavalitadas umas nas outras por quererem sair todas ao mesmo tempo.”
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“A vergonha deve ser a principal razão para um homem enlouquecer. A vergonha entra dentro de nós, vive dentro de nós e aparece nos olhos. É aí que se vê a vergonha, a revolver no mais fundo até vir à superfície e nos afogar.”
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“O que é que se pode fazer por alguém que desistiu de viver, que deixou de acreditar? Talvez a gente só morra quando deixa de acreditar.”
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“José Cortinhal foi sempre um homem muito calado, só falava quando a isso era obrigado e parecia que as palavras que conhecia eram tão poucas que estava sempre com medo que elas se acabassem. Dizia uma palavra e deixava o silêncio tomar conta dela até a asfixiar, e só depois dizia outra. O silêncio parecia também servir para falar.”
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“A morte tem que estar tapada, pois só assim a podemos olhar, tapada com muita terra para a esquecermos e voltarmos a acreditar que ela não existe. É preciso esquecê-la, tapá-la com terra, pazadas de terra, ou então com a vida. Sim, a vida. A vida é que nos faz esquecer a morte.”
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“A perda quando é grande secas as pessoas, seca-as por dentro, como um lume.”
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“A manhã abria-se e a claridade já se via no ar, nas ruas e nas casas. Uma luz branda rompia o nevoeiro e caía sobre a vila adormecida. Almorim, àquela hora da manhã, à hora em que as coisas paradas nos olham, era só silêncio e descampado. Um silêncio de árvores, casas, muros de pedra e caminhos.”
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