“Se na vida há uma coisa real e divina é a arte - e na arte se há um raio do céu é na música. Na música que nos vibra as cordas da alma, que nos acorda da modorra da existência a alma embotada. Oh! é tão doce sentir a voz vaporosa que trina, que nos enleva - e que parece que nos faz desfalecer, amar, e morrer!”
“Se acredito num velhote que vive nas nuvens, com uma barba branca e que nos julga com um código moral numerado de um a dez? Deus do céu, não, Elly, não acredito! Já teria sido expulso desta vida há muitos anos devido à minha história atribulada. Se acredito num mistério; no inexplicável fenómeno que é a própria vida? Na entidade grandiosa que ilumina as incongruências das nossas vidas, que nos dá coisas pelas quais nos devemos esforçar e também a humildade para nos recompormos e recomeçarmos tudo de novo? Então sim, nisso acredito. É a fonte da arte, da beleza, do amor e professa a derradeira bondade para com os seres humanos. Para mim, isso é Deus. Para mim, isso é vida. É nisso que acredito.”
“Quando mudamos de marca de cigarro, nos mudamos para um novo bairro, assinamos um novo jornal, nos apaixonamos e desapaixonamos, estamos a protestar, de modos ao mesmo tempo frívolos e profundos, contra a maçada que nunca se dissolve da vida de todos os dias. Infelizmente, um espelho é tão traiçoeiro quanto outro, e a dado momento reflecte em cada aventura o mesmo rosto insatisfeito, então ela pergunta que raio fiz eu?, na verdade quer dizer o que é que é que eu estou a fazer?, que é o que habitualmente se diz.”
“Não conhecia o prazer de ler, de explorar portas que se nos abrem na alma, de nos abandonarmos à imaginação, à beleza e ao mistério da ficção e da linguagem.”
“Morrer é quando há um espaço a mais na mesa afastando as cadeiras para disfarçar, percebe-se o desconforto da ausência porque o quadro mais à esquerda e o aparador mais longe, sobretudo o quadro mais à esquerda e o buraco do primeiro prego, em que a moldura não se fixou, à vista, fala-se de maneira diferente esperando uma voz que não chega, come-se de maneira diferente, deixando uma porção na travessa de que ninguém se serve, os cotovelos vizinhos deixam de impedir os nossos e faz-nos falta que impeçam os nossos”
“O que é preciso é ser-se natural e calmo Na felicidade ou na infelicidade, Sentir como quem olha, Pensar como quem anda, E quando se vai morrer, lembrar-se de que o dia morre, E que o poente é belo e é bela a noite que fica...”