“O sistema de produção privada manipula e intoxica o consumidor. Por requintados mecanismos de alienação publicitários, as aspirações e normas de comportamento das populações são controladas e integradas no sistema. Cria artificialmente, necessidades, modas, marcas, legendas, códigos sociais. O sistema de objectos é organizado como uma linguagem cujas leis nos são impostas pelos mestres do jogo económico, redundando tudo num grande desperdício colectivo, em prejuízo da satisfação de, por vezes, bem evidentes necessidades sociais.”
“O comportamento ritual não só revela realidades práticas e mundanas, é também um teatro vivo da psicologia colectiva e uma das mais ricas expressões da ideologia e crenças - mentalidade - de uma sociedade. Afinal de contas, como os antropólogos notaram, a religião é mais do que um padrão de relações sociais: é uma expressão da capacidade humana para imaginar a estrutura da sociedade. O ritual religioso não é apenas construção cultural: é uma forma de cognição que constrói modelos de realidade e paradigmas de comportamento. E dentro deste processo pelo qual a realidade é definida, o ritual da morte joga um papel central.”
“Escravos cardíacos das estrelas, Conquistámos todo o mundo antes de nos levantar da cama; Mas acordámos e ele é opaco, Levantámo-nos e ele é alheio, Saímos de casa e ele é a terra inteira, Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.”
“Pensando nas estrelas noite após noite começo a perceber que 'As estrelas são palavras' e todos os incontáveis mundos da VIa Láctea são palavras, e esse mundo também o é. E percebo que não importa onde eu esteja, seja em um quartinho repleto de ideias ou nesse universo infinito de estrelas e montanhas, tudo está na minha mente. Não há necessidade de solidão. Por isso, ame a vida pelo que ela é e não forme ideias preconcebidas de espécie alguma em sua mente.”
“Era o Sistema que alimentava o grande mercado internacional da moda, o enorme arquipélago da elegância italiana. Cada recanto do globo fora atingido pelas grifes, pelos homens, pelos produtos do Sistema. Sistema, um termo aqui conhecido por todos, mas que em alguns lugares ainda está por ser decifrado, uma referência desconhecida para quem não conhece as dinâmicas do poder da economia do crime. Camorra é uma palavra inexistente, para policiais. É usada pelos magistrados, pelos jornalistas, pelos cineastas. É uma palavra que faz rir seus filiados, é uma indicação genérica, um termo para estudiosos, relegado à dimensão histórica. O termo em que se definem os pertences a um clã é Sistema: "Pertenço ao Sistema de Secondigliano". Um termo eloquente, um mecanismo mais do que uma estrutura. A organização criminosa coincide diretamente com a economia, a dialética comercial é a estrutura dos clãs.”
“A maioria das pessoas não tem qualquer interesse real em conhecer a verdade das coisas (mesmo que digam ou finjam o contrário), como se pode constatar facilmente a partir da forma como pensam e vivem as suas vidas. A atitude natural mais comum entre os seres humanos relativamente às questões fundamentais, ou bem que consiste em assumir inconscientemente tê-las resolvido a priori, ou então em acreditar comodamente que não têm solução, sem qualquer necessidade de uma justificação racional e objectiva para o efeito, como se a verdade fosse uma questão de gosto, opinião ou preferência pessoal, ou como se se tratasse de uma escolha subjectiva que cada um livremente pudesse fazer à medida dos seus desejos, interesses e necessidades, e não objecto de uma descoberta racional e objectiva que todos devem fazer, se quiserem realmente saber a verdade. É por isso que questões como a da existência de Deus ou do sentido da vida ficam assim sujeitas ao capricho arbitrário da subjectividade pessoal, das crenças e opiniões particulares, preferindo uns acreditar que sim e outros que não, uns numa coisa e outros noutra, muitas vezes pelas mesmíssimas razões, porque dá jeito e é preciso acreditar em alguma coisa que nos dê certezas e a segurança ilusória de que sabemos muito bem quem somos, donde vimos, para onde vamos e o que fazemos aqui. É claro que isto pode resolver o problema subjectivo de acreditar ou não naquilo que nos convém, mas não resolve o problema objectivo de saber qual é afinal a verdade das coisas.”