“A consciência é uma pequena lanterna que a solidão acende à noite”
“- Ari, quando o vejo, lá no escuro (abro sempre uma fresta nos cortinados para espreitar), é uma luz na minha vida.- É da lanterna...- A sua lanterna ilumina-me a vida.- É muito simpática. Eu nem mereço, só aponto a lanterna para o lugar...- Só aponta a lanterna? Quem dera que na nossa vida houvesse um arrumador como o Ari, a apontar a lanterna para o lugar a que nos deveríamos dirigir, a iluminar o nosso caminho. Mas não, não temos ninguém. A minha mãe, que Deus a tenha, esperava isso do Senhor Jesus, mas nunca lhe vi a lanterna nem o vi arrumar coisa nenhuma.”
“Por vezes é suficiente a bruma ou a montanha. Por vezes uma árvore que se inclina sob as rajadas do vento é suficiente. Por vezes a noite é suficiente, e não o sonho que torna presente à alma aquilo que lhe falta ou que perdeu.”
“A solidão não é viver só, a solidão é não sermos capazes de fazer companhia a alguém ou a alguma coisa que está dentro de nós, a solidão não é uma árvore no meio duma planície onde só ela esteja, é a distância entre a seiva profunda e a casca, entre a folha e a raiz.”
“Deus fez-nos cheios de buracos na alma e o nosso dever é tapá-los todos para navegar. O homem é um bêbedo sempre encostado à parede ou uma criança a fazer tem-tem. Toda a grandeza é um investimento em nós próprios e é por isso que os grandes têm uma grande solidão.”
“E é justo? E é possível que uma coisa tão pequena como uma pistola ou uma navalha possa dar cabo de um homem, que é um touro? Nao vou me calar nunca. Os meses passam e o desespero me perfura os olhos e pica até nas pontas do cabelo.”