“e não existe um só pilar de granito a impedir-me de partir.”
“Lembro-me de outro, um rapaz novo em estado terminal : se nos aproximávamos tirava um pente do bolso do pijama e compunha o cabelo.(…)Se lhe dissesse isto não acreditava: desde quando um camponês é melhor que um doutor? Tínhamos a mesma idade, mais coisa menos coisa. A diferença é que você era um homem e eu um palerma de bata. Não tenho bata há muito.”
“Morrer é quando há um espaço a mais na mesa afastando as cadeiras para disfarçar, percebe-se o desconforto da ausência porque o quadro mais à esquerda e o aparador mais longe, sobretudo o quadro mais à esquerda e o buraco do primeiro prego, em que a moldura não se fixou, à vista, fala-se de maneira diferente esperando uma voz que não chega, come-se de maneira diferente, deixando uma porção na travessa de que ninguém se serve, os cotovelos vizinhos deixam de impedir os nossos e faz-nos falta que impeçam os nossos”
“«Que diferença de Lisboa. Não se pode viver numa cidade sem passado.»”
“Coitados, pensavam que eu gostaria de ler histórias de pessoas sem contrastes, em que os bons são sempre bons e os maus sempre maus, e a bondade e a maldade se acham divididas por uma muralha da China bem definida, e ainda bem, para sabermos de que lado convém estar.”
“Tanto ruído no interior deste silêncio: são as vozes dos outros a falarem em mim, pessoas de quem gostei, pessoas que perdi, gente que tenho ainda.”
“A book is finished when it does not want me to work on it any longer...it reaches a point when it feels like it is literally avoiding me. I have a very physical relationship with the manuscript, almost a corps à corps. Paradoxically, when I finally feel at ease with a manuscript, with its voices, I realize it is finished. I see a book as a living organism, with its own rules and will. What matters to me is to allow it to grow and to acquire an existence of its own. It’s as if the book uses me in order to come into existence, rather than being written.”