“— Mas o que é que você faria com o Graal?— Eu iria usá-lo.— Para quê?— Para livrar o mundo do pecado.— Seria um trabalho notável, mas nem Cristo conseguiu realizá-lo.— Você pára de eliminar ervas daninhas entre os vinhedos só porque elas sempre voltam a nascer?”

Bernard Cornwell

Bernard Cornwell - “— Mas o que é que você faria com o...” 1

Similar quotes

“Os chapéus também servem para isso, para esconder o cabelo. Não só quando se trata de um penteado feio, porque o melhor é esconder o cabelo sempre, até com penteados que dizem ser bonitos. O cabelo é uma parte morta do corpo. Por exemplo: quando você corta o cabelo, não dói. E, se não dói, é porque está morto. Quando alguém o puxa sim que dói, mas o que dói não é o cabelo, mas o couro cabeludo da cabeça. Pesquisei isso nas pesquisas livres com Mazatzin. O cabelo é como um cadáver que você traz em cima da cabeça enquanto está vivo. Além do mais é um cadáver fulminante, que cresce sem parar, o que é muito sórdido. Talvez quando você se converte em cadáver o cabelo já não seja sórdido, mas antes sim. Isso é o melhor dos hipopótamos anões da Libéria, que eles são calvos.”

Juan Pablo Villalobos
Read more

“Mas há muitas pessoas que têm talento e vontade, e muitas delas nunca chegam a nada. Esse é só o princípio para fazer qualquer coisa na vida. O talento natural é como a força de um atleta. Pode-se nascer com mais ou menos faculdades, mas ninguém chega a ser um atleta apenas porque nasceu alto ou forte ou veloz. O que faz o atleta, ou o artista, é o trabalho, o ofício e a técnica. A inteligência com que nascemos constitui apenas as munições. Para conseguirmos fazer qualquer coisa com ela, é necessário transformarmos a nossa mente numa arma de precisão.”

Carlos Ruiz Zafon
Read more

“Nas semanas que precederam sua instalação você viveu principalmente à noite. Você mantém seu ritmo e seus costumes por algum tempo. Já na terceira noite, você leva para lá uma mulher que conheceu vagamente, uma habitué do Moloko. Jamila tem vinte anos. Arrasta-se todas as noites pelas boates. Mora com uma tia, no subúrbio. Está com a gargante inflamada. Às cinco da manhã você lhe oferece sua hospitalidade. Ela preferiria que você a levasse para casa, mas você não tem mais carro. Durante a noite, você acaricia vagamente os seios dela. Ouve um grunhido sonolento. Não acontecerá mais nada. Transar com ela ou zelar por seu sono, tanto faz. Em ambos os casos você vai ter a ilusão de tê-la conhecido. Em todo caso, o álcool já lhe deu todas as satisfações do mundo. Você está com trinta e cinco anos, tem diplomas, um passado sólido, uma família burguesa que ela não tem. Mas ela é uma náufraga como você. Para ela, o fracasso é um dado social insuperável que ela sem dúvida arrastará consigo a vida inteira. Para você, é um abismo luxuoso e provisório.”

Pierre Mérot
Read more

“- Qual é, Jack, é mais do que isso - disse Ellen. Ela passou para um falsete agudo abobado - Ele é muito gato... É praticamente europeu. Quer dizer, ele viveu no mundo todo. E ele fala francês. - Ela cutucou Seph com o ombro. - E você viu os olhos dele? Eles mudam de cor, e ele tem aqueles cílios longos e escuros. E o jeito que ele beija. - Ela revirou os olhos.(...)- E então? Qual é o segredo de um grande beijo, Seph? - perguntou Jack - É a técnica, a duração, a intensidade ou o poder?Seph soltou um suspiro dramático.- Oh, está certo, Jack. Eu beijo você. Mas só desta vez.”

Cinda Williams Chima
Read more

“Você, Lord Byron, é inteligente também, mas uma inteligência fina, penetrante, como aço, como uma espada. Ao contrário de mim, você é mais capaz de se fazer amado do que de amar. Sua lógica é irresistível, mas impiedosa, irritante. É desses remédios que matam a doença e o doente. Você tem sentimento poético, e muito — no entanto é incapaz de escrever um verso que preste. Por quê? Sei lá. Há qualquer coisa que te contém, que te segura, como uma mão. Sua compreensão do mundo, da vida e das coisas é surpreendente, seu olho clínico é infalível, mas você é um homem refreado, bem comportado, bem educado, flor do asfalto, lírio de salão, um príncipe, o nosso Príncipe de Gales, como diz o Hugo. Tem uma aura de pureza não conspurcada, mas é ascético demais, aprimorado demais, debilitado por excesso de tratamento. Não se contamina nunca, e isso humilha a todo mundo. É esportivo, é atlético, é saudável, prevenido contra todas as doenças, mas, um dia, não vai resistir a um simples resfriado: há de cair de cama e afinal descobrir que para o vírus da gripe ainda não existe antibiótico. — Opinião de estudante de Medicina — e Eduardo pro- curava ocultar seu ressentimento com um sorriso. — Você, agora.(...)— E você, Eduardo. Você, o puro, o intocado, o que se preserva, como disse Mauro. Seu horror ao compromisso porque você se julga um comprometido, tem uma missão a cumprir, é um escritor. Você e sua simpatia, sua saúde... Bem sucedido em tudo, mas cheio de arestas que ferem sem querer. Seu ar de quem está sempre indo a um lugar que não é aqui, para se encontrar com alguém que não somos nós. Seu desprezo pelos fracos porque se julga forte, sua inteligência incômoda, sua explicação para tudo, seu senso prático — tudo orgulho. O orgulho de ser o primeiro — a vida, para você, é um campeonato de natação. Sua desenvoltura, sua excitação mental, sua fidelidade a um destino certo, tudo isso faz de você presa certa do demônio — mesmo sua vocação para o ascetismo, para a vida áspera, espartana. Você e seus escritores ingleses, você e sua chave que abre todas as portas. Orgulho: você e seu orgulho. De nós três, o de mais sorte, o escolhido, nosso amparo, nossa esperança. E de nós três, talvez, o mais miserável, talvez o mais desgraçado, porque condenado à incapacidade de amar, pelo orgulho, ou à solidão, pela renúncia. Hugo não disse mais nada. E os três, agora, não ousavam levantar a cabeça, para não mostrar que estavam chorando. O garçom veio saber se queriam mais chope, ninguém o atendeu. Alguém soltou uma gargalhada no fundo do bar. Lá fora, na rua, um bonde passou com estrépito.”

Fernando Sabino
Read more