“Felizes os que podem ver de longe a pátria nas garras do abutre. O padre parecia dizer-se a si próprio esta melancólica profecia. A guerra, que devia ser nesta época o móvel de todas as conversações, foi assunto raras vezes tratado pelo padre. Aquele espírito era alto de mais para pascer-se na luta de sórdidas ambições, em que o timbre das bandeiras era o sangue, que esperdiçavam, uns como reses levadas ao açougue do «patriotismo», e outros como aventureiros devorados duma fome que legitima quaisquer princípios, quando a vida é o mais que pode perder-se em comparação ao muito que pode ganhar-se. O padre tinha razão...”
In this passage from Camilo Castelo Branco's work, the character reflects on the state of their homeland, which is being ravaged by conflict. The priest's melancholic prophecy alludes to the destructive nature of war, highlighting its grim consequences. The priest's disdain for the war is evident, as he views it as a product of base ambitions and senseless bloodshed. This passage reveals an introspective commentary on the futility of war and the moral degradation it can bring upon those involved in it.
In this passage from Camilo Castelo Branco, the priest laments the state of his country, caught in the clutches of vultures symbolizing corruption and greed. He criticizes the war, driven by selfish ambitions and the shedding of blood for the sake of patriotism and personal gain. This sentiment of condemning the exploitation of war for personal interests and the devaluing of human life is still relevant today, as conflicts continue to ravage nations and lives are sacrificed in the name of power and greed.
In this passage from Camilo Castelo Branco's work, the character reflects on the state of war and patriotism, discussing the futility of conflict driven by selfish ambitions. The priest's melancholic prophecy serves as a powerful commentary on the destructive nature of warfare.
In this passage, Camilo Castelo Branco reflects on the impact of war and the corruption of patriotism. Consider the following questions to delve deeper into the themes presented in the text:
“Eu comparo o cair das alturas do coração à queda que se dá dum garboso cavalo: quem nos vê cair pode ser que nos deplore; mas decerto não nos acha ridículos. Ora, o cair da baixeza dos cálculos racionais é coisa que faz riso aos outros, e por isso muito comparável ao tombo que damos dum ignóbil burro.”
“Estava o estômago no mais activo de sua chilificação. Havia uma insólita claridade no meu espírito. Nenhum devaneio dos que arrombam poetas em ermos e sombras me perturbava o cozimento das pingues substâncias em que abundara o jantar. As minhas meditações eram pachorrentas, terra a terra, sem enlevos que me deslocassem da felicidade do momento para que transportarem ao passado, onde estava a saudade, ou ao futuro donde me podia estar mentido a esperança”
“Lá não se diz ama; é querem-se. "Querem-me" é outra coisa; é amalgamarem-se num só ser, em uma só vontade, numa identidade de alma e corpo tal, e tão uma que nem sequer cogitam se há desgraça com força de desuni-los aquém da morte. E para lá da sepultura ainda eles têm como segura a vida imortal em união de penas ou glórias.”
“A viagem não acaba nunca. Só os viajantes acabam. E mesmo estes podem prolongar-se em memória, em lembrança, em narrativa. Quando o visitante sentou na areia da praia e disse:“Não há mais o que ver”, saiba que não era assim. O fim de uma viagem é apenas o começo de outra. É preciso ver o que não foi visto, ver outra vez o que se viu já, ver na primavera o que se vira no verão, ver de dia o que se viu de noite, com o sol onde primeiramente a chuva caía, ver a seara verde, o fruto maduro, a pedra que mudou de lugar, a sombra que aqui não estava. É preciso voltar aos passos que foram dados, para repetir e para traçar caminhos novos ao lado deles. É preciso recomeçar a viagem. Sempre.”
“Diz a sabedoria popular que nunca se pode ter tudo, e não lhe falta razão, o balanço das vidas humanas joga constantemente sobre o ganho e o perdido, o problema está na impossibilidade, igualmente humana, de nos pormos de acordo sobre os méritos relativos do que se deveria perder e do que se deveria ganhar, por isso o mundo está no estado em que o vemos.”
“...faziam parte da mesma classe social, a dos bem-nascidos, criados em berço de ouro, das viaturas motorizadas, dos lambris e das baixelas. Para lá dos factos e das simpatias, mais alto do que as leis ditadas pelos homens, está esta conivência e esta troca de galhardetes: “Não te metas comigo que eu pagar-te-ei na mesma moeda.” Quem pensar que um dos seus pode ser um assassino, está a admitir que ele próprio o pode ser. É confessar perante toda a gente que aqueles que falam com trejeitos de boca e nos olham do alto, como se fôssemos excrementos de galinha, que têm uma alma torpe como os outros homens, são de facto como todos os homens. E isso talvez seja o fim do mundo, o fim do seu mundo. É portanto insuportável.”