“A questão é: você já reparou como nós esmagamos uma barata numa boa e não sentimos remorso nenhum, apesar de estarmos na realidade exterminando uma vida? Pois é. Fazemos isso porque não nos identificamos com a barata. Porque ela é muito diferente de nós. [...] Pensando por esse lado, acho que algumas pessoas às vezes tendem a fazer do mesmo jeito com relação a outras. Ou seja, elas veem com distanciamento aqueles com quem não se identificam logo de cara, entende? É como se o estranho, que não faz parte do mesmo grupo que nós, fosse visto como um ser inferior... Quase uma barata!”
“As palavras em si mesmas não são nada. São apenas letrinhas agrupadas ou um monte de sons combinados de uma certa maneira, mas que não fazem nenhum sentido por si mesmos. É a gente que dá sentido às palavras. Está tudo em nossa cabeça, nos pequenos detalhes de como as coisas funcionam dentro dela. É só uma questão de como as coisas se processam no cérebro de uma pessoa e de outra, entende?”
“Muita gente fala que é preciso aprender com o exemplo dos pais e dos professores e coisa e tal. Pode até ser! Não foi o que aconteceu comigo, mas pode ser! Só acho que estão deixando de colocar um fator importante nessa soma de quem nos influencia. Algumas vezes, para um garoto encontrar o caminho certo, é preciso que seu guia, seu modelo inspirador, seja como um reflexo dele mesmo no espelho, alguém com quem consiga se identificar de fato, entende? Refiro-me a se identificar principalmente nessa coisa da idade.”
“Isso é mais uma coisa que aprendi com o tempo, sabe? O bem e o mal não existem! Quer dizer, existir até que existem, mas apenas no contexto de uma pergunta importante: bem ou mal para quem? A questão é que tudo depende do ponto de vista, entende, filho? Pense numa partida de futebol, por exemplo. A vitória é ótima para o time que vence, mas a mesma vitória é amarga para quem perde. Não é?Agora, imagine que jogadores dos dois times sejam entrevistados para falar da partida. Os que ganharam com certeza elogiarão a atuação do seu time, enfatizarão a importância dos pontos obtidos com a vitória. No entanto, o jogador do time que perdeu reclamará dos erros da equipe, das condições desfavoráveis do gramado, descerá o pau na arbitragem e coisa e tal. No fim, para uns o resultado terá sido justo, enquanto outros tenderão a se sentir injustiçados. As coisas são sempre assim. Nossa visão depende sempre do lado em que estamos.”
“Acabei aprendendo que a gente sempre verá alguém reagindo de um jeito diferente, conforme o sentido que uma palavra ganhe na cabeça dessa pessoa. Para você, A pode significar apenas A; já um outro pode entender que A é o que vem antes de B, C e D. Você pode olhar para o copo com água até a metade e achar que está meio cheio, outro pode ver o mesmo copo e pensar que ele está meio vazio. E cada um vai reagir de acordo com o sentido que dá para cada coisa na vida.”
“Ah, mas tudo bem. Com o tempo, todo mundo se acostuma. As pessoas esquecem umas das outras com tanta facilidade. Como é mesmo que minha mãe dizia? Quem não é visto, não é lembrado. Longe dos olhos, longe do coração. Pois é.”
“Ele agora receberia o troco na mesma moeda. Aliás, a Bíblia também falava disso, não falava? 'Olho por olho, dente por dente'? O quê? Ah, sim! Sua professora explicou que isso era só no Antigo Testamento, certo? Sei como é. Dizem que agora o certo é oferecer a outra face, não é isso? Pois é. A questão é que eles já me haviam socado nessa face também.”