“Isso é mais uma coisa que aprendi com o tempo, sabe? O bem e o mal não existem! Quer dizer, existir até que existem, mas apenas no contexto de uma pergunta importante: bem ou mal para quem? A questão é que tudo depende do ponto de vista, entende, filho? Pense numa partida de futebol, por exemplo. A vitória é ótima para o time que vence, mas a mesma vitória é amarga para quem perde. Não é?Agora, imagine que jogadores dos dois times sejam entrevistados para falar da partida. Os que ganharam com certeza elogiarão a atuação do seu time, enfatizarão a importância dos pontos obtidos com a vitória. No entanto, o jogador do time que perdeu reclamará dos erros da equipe, das condições desfavoráveis do gramado, descerá o pau na arbitragem e coisa e tal. No fim, para uns o resultado terá sido justo, enquanto outros tenderão a se sentir injustiçados. As coisas são sempre assim. Nossa visão depende sempre do lado em que estamos.”
“O inferno dos vivos não é uma coisa que virá a existir; se houver um, é o que já está aqui, o inferno que habitamos todos os dias, que nós formamos ao estarmos juntos. Há dois modos para não o sofrermos. O primeiro torna-se fácil para muita gente: aceitar o inferno e fazer parte dele a ponto de já não o vermos. O segundo é arriscado e exige uma atenção e uma aprendizagem contínuas: tentar e saber reconhecer, no meio do inferno, quem e o que não é inferno, e fazê-lo viver, e dar-lhe lugar.”
“"Ter medo de errar é um erro. É sempre um erro. E é o único erro que não tem perdão. Sou maravilhado por quem erra. Por quem sabe que, por fazer, por tentar, pode errar. E são as melhores pessoas, convence-te disso, quem mais erra. São as pessoas que vão aos limites (e os ultrapassam sempre que lá chegam), que se testam como se não houvesse amanhã, como se o agora fosse tudo o que há para haver. E é: o agora é tudo o que há para haver.”
“Os chapéus também servem para isso, para esconder o cabelo. Não só quando se trata de um penteado feio, porque o melhor é esconder o cabelo sempre, até com penteados que dizem ser bonitos. O cabelo é uma parte morta do corpo. Por exemplo: quando você corta o cabelo, não dói. E, se não dói, é porque está morto. Quando alguém o puxa sim que dói, mas o que dói não é o cabelo, mas o couro cabeludo da cabeça. Pesquisei isso nas pesquisas livres com Mazatzin. O cabelo é como um cadáver que você traz em cima da cabeça enquanto está vivo. Além do mais é um cadáver fulminante, que cresce sem parar, o que é muito sórdido. Talvez quando você se converte em cadáver o cabelo já não seja sórdido, mas antes sim. Isso é o melhor dos hipopótamos anões da Libéria, que eles são calvos.”
“Muita gente fala que é preciso aprender com o exemplo dos pais e dos professores e coisa e tal. Pode até ser! Não foi o que aconteceu comigo, mas pode ser! Só acho que estão deixando de colocar um fator importante nessa soma de quem nos influencia. Algumas vezes, para um garoto encontrar o caminho certo, é preciso que seu guia, seu modelo inspirador, seja como um reflexo dele mesmo no espelho, alguém com quem consiga se identificar de fato, entende? Refiro-me a se identificar principalmente nessa coisa da idade.”
“É um pouco assim: há linhas de ar em volta da sua cabeça, do seu olhar, zonas de detenção dos seus olhos, do seu olfato, do seu paladar, ou seja, você anda com seu limite por forae você não poderá ultrapassar esse limite quando pensar que já apreendeu plenamente qualquer coisa, a coisa que é igual a um iceberg, tem um pedacinho por fora e o mostra, com todo o resto do seu volume bem para lá do seu limite e foi assim que o Titanic afundou. Heste Holiveira sempre com os seus hexemplos. (SIC)”