“O excesso de animalidade deforma ohomem cultural; o excesso de cultura cria animais doentes. Estedilema mostra toda a insegurança que o erotismo traz ao homem. Nofundo, é algo muito poderoso que, como a natureza, pode serdominado e usado, como se fosse impotente. Mas o triunfo sobre anatureza se paga muito caro. A natureza dispensa quaisquer declaraçõesde princípios, contenta-se com tolerância e sábias medidas.”
“Felizes os que podem ver de longe a pátria nas garras do abutre. O padre parecia dizer-se a si próprio esta melancólica profecia. A guerra, que devia ser nesta época o móvel de todas as conversações, foi assunto raras vezes tratado pelo padre. Aquele espírito era alto de mais para pascer-se na luta de sórdidas ambições, em que o timbre das bandeiras era o sangue, que esperdiçavam, uns como reses levadas ao açougue do «patriotismo», e outros como aventureiros devorados duma fome que legitima quaisquer princípios, quando a vida é o mais que pode perder-se em comparação ao muito que pode ganhar-se. O padre tinha razão...”
“... agora sei que o nosso mundo não e mais permanente do que uma onda a erguer-se no oceano. E quaisquer que sejam as nossas lutas e triunfos, como quer que os possamos sofrer, muito rapidamente se dissolvem todos numa aguada, como tinta de pintar no papel”
“Não sou, como disse Goethe, o espírito que nega, mas o espírito que contraria. (...) Porque contrariar actos, por maus que sejam, é estorvar o giro do mundo, que é acção. Mas contrariar ideias é fazer com que se abandonem, e se caia no desalento e de aí no sonho e portanto se pertença ao mundo”
“Ao relacionar-se com o mundo objetivo, por intermédio de suas faculdades, o mundo exterior torna-se real para o homem, e de fato é só o “amor” que faz o homem verdadeiramente crer na realidade do mundo objetivo a ele extrínseco. Sujeito e objeto não podem ser separados . “O olho transformou-se em olho humano quando seu objeto se converteu em um objeto humano, social, criado pelo homem e a este destinado... Eles [os sentidos] se relacionam com a coisa devido a esta, mas a coisa em si mesma é uma relação humana objetiva para si própria e para o homem, e vice-versa. A necessidade e o gozo perderam, assim, seu caráter egoísta, e a natureza perdeu sua mera utilidade pelo fato de sua utilização ter-se transformado em utilização humana. (Com efeito, só posso relacionar-me de maneira humana com uma coisa quando esta se relaciona de maneira humana com o homem)”Esta última afirmação é quase exatamente a mesma feita no pensamento do budismo Zen, assim como por Goethe. De fato o pensamento de Goethe, Hegel e Marx se acha intimamente ligado ao do Zen. O que há de comum neles é a ideia do homem superar a cisão entre sujeito e objeto; o objeto é um objeto, mas no entanto cessa de ser objeto , e nesta nova abordagem o homeme se funde com o objeto, conquanto ele e o objeto continuem a ser dois. O homem ao relacionar-se humanamente com o mundo objetivo, supera a alienação de si mesmo.”
“O homem veio das cavernas primitivas e no fundo de seu cérebro foi construindo mitos que o ajudavam a entender as forças da natureza; uma natureza violenta, que o batia com suas tempestades, seus raios; com os vulcões, as neves e o frio doloroso; com a fome, a sede, as feras bravias que o impediam de dormir em paz. Mas, principalmente, o assediava com a doença, um acontecimentos incompreensível, que rompia todo o senso, toda a vida. Daí surgiram os deuses, a magia, a necessidade de se aplacar com a fé as forças do desconhecido.”