“Retrato de Mulher Triste Vestiu-se para um baile que não há.Sentou-se com suas últimas jóias.E olha para o lado, imóvel.Está vendo os salões que se acabaram,embala-se em valsas que não dançou,levemente sorri para um homem.O homem que não existiu.Se alguém lhe disser que sonha,levantará com desdém o arco das sobrancelhas,Pois jamais se viveu com tanta plenitude.Mas para falar de sua vidatem de abaixar as quase infantis pestanas,e esperar que se apaguem duas infinitas lágrimas.”

Cecília Meireles

Cecilia Meireles - “Retrato de Mulher Triste Vestiu-se...” 1

Similar quotes

“No dia em que for possível à mulher amar na totalidade, não na sua fraqueza, não para fugir de si mesma mas para se encontrar, não para se demitir mas para se afirmar, nesse dia o amor tornar-se-á para ela, como para o homem, fonte de vida e não perigo mortal”

Simone de Beauvoir
Read more

“Entre os apetites da carne, a ambição do dinheiro e as melancolias da paixão, tudo confundia-se num mesmo sofrimento; e em lugar de desviar seu pensamento, agarrava-se mais a ele, excitando a dor e procurando em toda a parte ocasiões para excitá-lo. Irritava-se com um prato mal servido ou com uma porta entreaberta, lamentava-se pelo veludo que não possuía, pela felicidade que lhe faltava, por seus sonhos grandes demais, por sua casa por demais acanhada.O que a exasperava era que Charles não parecia suspeitar de seu suplício. Sua convicção de que a fazia feliz parecia-lhe um insulto imbecil e sua segurança nesse ponto parecia-lhe ingratidão. Para quem então era ela sensata? Não era ele o obstáculo para qualquer felicidade, a causa de toda miséria e como o bico pontudo daquela fivela, daquela correia complexa que a fechava por todos os lados?Portanto, tranferiu somente para ele o ódio denso que resultava de seus desgostos e cada esforço para diminuí-lo serviu apenas para aumentá-lo; pois àquela dor inútil acrescentavam-se outros motivos de desespero e ela contribuía ainda mais para seu afastamento. Mesmo a doçura para consigo mesma provocava-lhe rebeliões. A mediocridade doméstica empurrava-a para fantasias luxuosas, a ternura matrimonial a desejos adúlteros. Teria desejado que Charles lhe batesse, para poder detestá-lo com maior razão, vingar-se dele. Espantava-se às vezes com as conjecturas atrozes que lhe vinham à cabeça; e seria preciso continuar a sorrir, ouvir repetir que era feliz, fingir sê-lo e deixar que acreditassem?”

Gustave Flaubert
Read more

“Ele se divertia silenciosamente com a reação indignada das pessoas diante das poucas linhas de um poema. Como é pequena a alma humana. Então não percebem que Maldoror , como ele nasceu perverso? Chocam-se com à maldade circunscrita à imaginação de um poeta obscuro, no entanto não se comovem com a crueldade que veem estampada na cidade quando passeiam, alegres, pelas ruelas imundas. O que dirão se souberem que estão na mesma sala com um ser muito mais cruel que qualquer criação dos livros? provavelmente se recusarão a acreditar desviando os olhos como fazem ao tropeçar nos negros e mendigos sujos que encontram no caminho. Se a paisagem é terrível fecha-se a janela, para ele é diferente, ele se alimenta dessa miséria cotidiana: a desgraça alheia é sempre um bálsamo espesso para sua solidão. O inferno alheio é o seu paraíso. Ele acha graça nos sermões dos padres que sempre sobrepõem o bem ao mal, como se ambos não fossem as duas faces da mesma pataca. Para ele o bem é o mal a crueldade afinal não passa de um ponto de vista.”

Jô Soares
Read more

“Vampiros é o que está a dar – diz o editor – vampiros e sexo desenfreado para senhoras que já não fazem sexo, nem desenfreado nem com freio. Não podemos errar se fizermos um livro em que senhoras que já não fazem sexo, fazem sexo desenfreado com vampiros; ou se fizermos um livro sobre senhoras que, sendo vampiras, já não fazem sexo e acabam por fazê-lo de forma desenfreada.”

Nuno Markl
Read more

“O comandante olhou Fermina Darza e viu em suas pestanas os primeiros lampejos de um orvalho de inverno. Depois olhou Florentino Ariza, seu domínio invencível, e se assustou com a suspeita tardia de que é a vida, mais que a morte, a que não tem limites”

Gabriel Garcia Marquez
Read more