“(...)depois de acordar de um pesadelo, nada a sossegava mais do que a respiração do pai, ali ao seu lado, e o folhear das páginas. Nada conseguia espantar mais rapidamente os sonhos maus do que o sussurrar do papel impresso.”
“Dormiu sem o saber, mas sabendo que continuava viva no sono, que lhe sobrava metade da cama e que estava deitada de costas do lado esquerdo, como sempre, mas que lhe fazia falta o contrapeso do outro corpo no outro lado. Pensando em sonhos, pensou que nunca mais poderia dormir assim e, em sonhos, começou a soluçar sem mudar de posição no seu lado, até muito depois de terem acabado de cantar os galos, e acordou-a o sol indesejável da manhã sem ele.”
“Ora, os sonhos são imagens. Melhor ainda, de uma maneira mais precisa, os sonhos são ao mesmo tempo os pais e senhores das imagens. Sou um homem que as imagens atacam. Faço imagens que saem da noite.”
“Ninguém quer extraviar um livro. Preferimos perder um anel, um relógio, o chapéu-de-chuva, do que o livro cujas páginas não mais leremos mas que conservam, na sonoridade do seu título, uma antiga e talvez perdida emoção.”
“Um beijo a sério é mais do que o encontro dos lábios. É um acasalamento... de boca, língua e respiração... Um conhecimento íntimo.”
“Do mesmo modo que o papel-moeda circula no lugar da prata, também no mundo, no lugar da estima verdadeira e da amizade autêntica, circulam as suas demonstrações exteriores e os seus gestos imitados do modo mais natural possível. Por outro lado, poder-se-ia perguntar se há pessoas que de facto merecem essa estima e essa amizade. Em todo o caso, dou mais valor aos abanos de cauda de um cão leal do que a cem daquelas demonstrações e gestos.”
“Segundo os Shastras tradicionais, o Mestre é para o discípulo, pai, mãe e Íshwara (que significa Senhor, representa o arquétipo e, em certo sentido é a divindade eleita para o culto particular). Numa era de contestação e irreverência, tal afirmação não é nada modesta. Hoje está na moda construir frases de efeito ou emitir conceitos que façam média com o leitor. Conceitos demagógicos para cativar a opinião pública. Entretanto, as escrituras hindus não estavam preocupadas com isso e não estavam brincando quando colocaram muito claramente a posição do Mestre e do discípulo.Sendo uma filosofia do Oriente e da antiguidade, o Yôga não faz por menos: o discípulo deve total respeito, obediência, amor e fé ao seu Mestre. Caso contrário, não tem capacidade de ser discípulo nem o direito de chamar a alguém de Mestre, conforme diz a Maitrí Upanishad: “Esta ciência absolutamente secreta só deve ser ensinada a um filho ou a um discípulo totalmente devotado ao seu Mestre”.Para aquele que não souber aprender, ninguém será um Mestre competente, já que a incompetência não estará no ensinar, mas no aprender. Para aquele que aceita as normas do discipulado, o Mestre escolhido sempre é bom, pois tal discípulo está com o siddhi do aprendizado plenamente desenvolvido e aprenderá mesmo que nada seja dito, bastando a proximidade física do Mestre, o qual atua como catalisador. Por isso é importante visitar o Mestre com freqüência.Por que a proximidade física é tão importante, se o Yôga é fundamentalmente subjetivo e domina tão espetacularmente as dimensões paranormais? É porque ocorre um fenômeno denominado nyása, uma espécie de osmose, no qual, o discípulo que reúna as qualidades indispensáveis, assimila parte do conhecimento e o poder do seu Mestre através do simples convívio. Para ele, o Mestre é um catalisador vivo da força e da sabedoria que já estavam presentes no íntimo do próprio discípulo. Esse convívio é tão mais importante na medida em que é através dele que serão realizados o Guru Sêva, o Parampará e o Kripá Guru, três das mais sagradas tradições do Yôga no que se refere às relações Mestre/discípulo.Ao escolher o seu Mestre você deve aceitá-lo, acatá-lo e reconhecê-lo definitivamente e sem reservas. Não cabe da sua parte nenhuma dúvida ou questionamento. Se você não tem essa capacidade, não está a altura de ter um Mestre e vai ficar estagnado sem aprender nada profundo, nada que seja realmente Yôga. Ao que, por outro lado, tem essa capacidade no seu mais alto grau, esse consegue aprender, mesmo à distância, pois cada vez que realizar um pújá sincero, entra em sintonia interior e o Mestre fala diretamente ao seu coração, fora do tempo e do espaço. Dessa forma, pode compensar parcialmente a falta da tão importante presença física.”