“Não podemos deixar que o medo tome conta de nós, porque se deixarmos que isso aconteça ele nunca mais nos larga." David Soares in "Batalha”

David Soares

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“«Andar a pé por uma cidade antiquíssima, como Lisboa, é meio-caminho andado para se sentir uma tristeza profunda pela efemeridade do nosso próprio mundo: onde estão os nossos sítios, os nossos mortos, esses pontos de contacto entre o nosso coração e o território? Como continuar a caminhar, quando grande parte do que amámos já se foi embora? Quem estuda a história não se pode dar ao luxo de ser nostálgico, mas eu não sou historiador, sou escritor e por isso posso ser nostálgico à vontade. E nem toda a tristeza é má. Continuam perto de nós, essas âncoras de osso e pedra, de palavra e memória - camufladas no território, como um vasto sistema nervoso sob os músculos. Continua-se a caminhar, porque o território é tudo o que existe: é tudo o que sempre existiu e continuará a existir; mesmo depois das mortes daqueles de quem gostamos e da ruína dos locais onde vivemos. Somos sílabas e iluminuras num texto redigido pelo tempo sobre a terra que nos viu nascer, como tinta sobre um pedaço de papel. Nós secamos, como a tinta - embaciamos. O território fica - mas nós ficamos nele. Ressequidos. Translúcidos. Como folhas mortas. Não há nada mais para além disso.»”


“Ele se divertia silenciosamente com a reação indignada das pessoas diante das poucas linhas de um poema. Como é pequena a alma humana. Então não percebem que Maldoror , como ele nasceu perverso? Chocam-se com à maldade circunscrita à imaginação de um poeta obscuro, no entanto não se comovem com a crueldade que veem estampada na cidade quando passeiam, alegres, pelas ruelas imundas. O que dirão se souberem que estão na mesma sala com um ser muito mais cruel que qualquer criação dos livros? provavelmente se recusarão a acreditar desviando os olhos como fazem ao tropeçar nos negros e mendigos sujos que encontram no caminho. Se a paisagem é terrível fecha-se a janela, para ele é diferente, ele se alimenta dessa miséria cotidiana: a desgraça alheia é sempre um bálsamo espesso para sua solidão. O inferno alheio é o seu paraíso. Ele acha graça nos sermões dos padres que sempre sobrepõem o bem ao mal, como se ambos não fossem as duas faces da mesma pataca. Para ele o bem é o mal a crueldade afinal não passa de um ponto de vista.”


“Os seus amigos gostam dos poemas que escreve?'Acho que sim. Acho que gostam bastante.''Muito bem, mas não se esqueça: o seu talento só será tolerado enquanto aquilo que alcançar não fizer sombra à mediania daqueles que o rodeiam.”


“As coisas que vivem ao pé da morte sentem-nos e vêm ter connosco. Quando somos capazes de ver as coisas que vivem ao pé da morte é porque estamos ao pé dela. É sinal que vamos morrer.”


“O que há de mais reles nos sonhos é que todos os têm.”


“Cada um de nós tem dentro de si alguma coisa que não pode ser negada, ainda que nos faça grita, gritar, até ao fim. Somos o que somos, e pronto. Como a velha lenda celta do pássaro com o espinho no peito que canta até morrer, porque precisa de fazê-lo, porque é levado a isso. Podemos saber que vamos errar até antes de cometermos o erro, mas o conhecimento de nós mesmos não afecta nem altera o resultado. Cada qual entoa o seu cântico, convencido de que é o mais maravilhoso que o mundo já ouviu. Não vês? Criámos os nossos espinhos e nunca nos detivemos para avaliar o custo. A única coisa que podemos fazer é sofrer a dor e dizer intimamente que valeu a pena.”