“Você diz que minha maneira de pensar não pode ser aprovada. O que me importa? Bem louco é quem adota a maneira de pensar dos outros! Ela é fruto das minhas reflexões, deve-se á minha existência, à minha organização; não sou senhor de mudá-la, e, se fosse, não o faria. Essa maneira de pensar que você reprova é o único consolo de minha vida. Não foi a minha maneira de pensar que me desgraçou. O homem sensato que despreza o preconceito dos tolos necessariamente torna-se inimigo dos tolos; que se fie disto e caçoe destes. Um viajante segue numa bela estrada por onde espalharam armadilhas; cai numa delas. A quem a culpa, ao viajante ou ao celerado que as armou? Logo, se, como você diz, colocam minha liberdade a preço do sacrifício de meus princípios ou gostos, podemos nos dizer um eterno adeus, pois antes deles, sacrificaria mil vidas e mil liberdades se as tivesse. Taís princípios e gostos são levados por mim ao fanatismo, e éobra das perseguições dos meus tiranos. Quanto mais me atormentarem, mais enraizarão meus princípios no peito. E declaro abertamente jamais ser necessário me falarem de liberdade, se esta só me for oferecida pelo preço da destruição de meus princípios. Nem diante do cadafalso mudaria de idéia.”

Donatien Alphonse François de Sade

Donatien-Alphonse-François de Sade - “Você diz que minha...” 1

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“O meu nome diz o que devo ser, o que devo pensar, o que devo falar. Meu nome é uma gaiola em que estou preso. Mas se, ao acordar, eu tiver me esquecido do meu nome, terei esquecido também de tudo que se espera de mim. Se nada se espera de mim, estou livre para ser aquilo que nunca fui. Começarei a viver minha vida a partir de mim mesmo e não a partir do nome que me deram e pelo qual sou conhecido.”

Rubem Alves
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“Por que lê tanto ? (...)- Olhe-me e diga o que vê. O rapaz olhou-o com suspeita- Isto é algum truque ? Vejo você. Tyrion Lannister Tyrion suspirou. - Você é notavelmente gentil para um bastardo, Snow. O que vê é um anão. Você tem o que ? Doze anos ? - Catorze - disse o rapaz.- Catorze, e é mais alto que alguma vez serei. Minhas pernas são curtas e tortas, e caminho com dificuldade. Necessito de uma sela especial para não cair do cavalo. Uma cela de minha própria concepção, talvez te interesse saber. Era isso ou montar um pônei. Meus braços são suficientemente fortes mas, uma vez mais, demasiado curtos. Nunca serei um espadachim. Se tivesse nascido camponês, provavelmente me teriam me expulsado para que morresse, ou vendido para a coleção de aberrações de algum negociante de escravos. Mas, ai de mim ! Nasci um Lannister de Rochedo Casterly, e as coleções de aberrações são das mais pobres. Esperam-se coisas de mim. Meu pai foi mão do rei durante vinte anos. Aconteceu que, mais tarde, meu irmão matou esse mesmo rei, mas minha vida está cheia dessas pequenas ironias. Minha irmã casou-se com o novo rei e o meu repugnante sobrinho será rei depois dele. Devo cumprir minha parte pela honra da minha casa, não concorda ? Mas como ? Bem, poderei ter as pernas pequenas demais para o corpo, mas minha cabeça é grande demais, embora eu prefira pensar que tem o tamanho certo para minha mente. Possuo um entendimento realista das minha forças e fraquezas. A mente é minha arma. Meu irmão tem a sua espada, O Rei Robert, o seu martelo de guerra, e eu tenho a minha mente... e uma mente necessita de livros da mesma forma que uma espada necessita de uma pedra de amolar se quisermos que se mantenha afiada - Tyrion deu uma palmada na capa de coura do livro - É por isso que leio tanto, Jon Snow.”

George R.R. Martin
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“... Eu me desnudo emocionalmente quando confesso minha carência – que estarei perdido sem você, que não sou necessariamente a pessoa independente que tentei aparentar. Na verdade, não passo de um fraco, cuja noção dos rumos ou do significado da vida é muito restrita. Quando choro e lhe conto coisas que, confio, serão mantidas em segredo, coisas que me levarão à destruição, caso terceiros tomem conhecimento delas, quando vou a festas e não me entrego ao jogo da sedução porque reconheço que só você me interessa, estou me privando de uma ilusão há muito acalentada de invulnerabilidade. Me torno indefeso e confiante como a pessoa no truque circense, presa a uma prancha sobre a qual um atirador de facas exercita sua perícia e as lâminas que eu mesmo forneci passam a poucos centímetros da minha pele. Eu permito que você assista a minha humilhação, insegurança e tropeços. Exponho minha falta de amor-próprio, me tornando, dessa forma, incapaz de convencer você (seria realmente necessário?) a mudar de atitude. Sou fraco quando exibo meu rosto apavorado na madrugada, ansioso ante a existência, esquecido das filosofias otimistas e entusiasmadas que recitei durante o jantar. Aprendi a aceitar o enorme risco de que, embora eu não seja uma pessoa atraente e confiante, embora você tenha a seu dispor um catálogo vasto de meus medos e fobias, você pode, mesmo assim, me amar...”

Alain De Botton
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“Mestre, meu mestre querido!Coração do meu corpo intelectual e inteiro!Vida da origem da minha inspiração!Mestre, que é feito de ti nesta forma de vida?Não cuidaste se morrerias, se viverias, nem de ti nem de nada,Alma abstrata e visual até aos ossos,Atenção maravilhosa ao mundo exterior sempre múltiplo,Refúgio das saudades de todos os deuses antigos,Espírito humano da terra materna,Flor acima do dilúvio da inteligência subjetiva...Mestre, meu mestre!Na angústia sensacionista de todos os dias sentidos,Na mágoa quotidiana das matemáticas de ser,Eu, escravo de tudo como um pó de todos os ventos,Ergo as mãos para ti, que estás longe, tão longe de mim!Meu mestre e meu guia!A quem nenhuma coisa feriu, nem doeu, nem perturbou,Seguro como um sol fazendo o seu dia involuntariamente,Natural como um dia mostrando tudo,Meu mestre, meu coração não aprendeu a tua serenidade.Meu coração não aprendeu nada.Meu coração não é nada,Meu coração está perdido.Mestre, só seria como tu se tivesse sido tu.Que triste a grande hora alegre em que primeiro te ouvi!Depois tudo é cansaço neste mundo subjetivado,Tudo é esforço neste mundo onde se querem coisas,Tudo é mentira neste mundo onde se pensam coisas,Tudo é outra coisa neste mundo onde tudo se sente.Depois, tenho sido como um mendigo deixado ao relentoPela indiferença de toda a vila.Depois, tenho sido como as ervas arrancadas,Deixadas aos molhos em alinhamentos sem sentido.Depois, tenho sido eu, sim eu, por minha desgraça,E eu, por minha desgraça, não sou eu nem outro nem ninguém.Depois, mas por que é que ensinaste a clareza da vista,Se não me podias ensinar a ter a alma com que a ver clara?Por que é que me chamaste para o alto dos montesSe eu, criança das cidades do vale, não sabia respirar?Por que é que me deste a tua alma se eu não sabia que fazer delaComo quem está carregado de ouro num deserto,Ou canta com voz divina entre ruínas?Por que é que me acordaste para a sensação e a nova alma,Se eu não saberei sentir, se a minha alma é de sempre a minha?Prouvera ao Deus ignoto que eu ficasse sempre aquelePoeta decadente, estupidamente pretensioso,Que poderia ao menos vir a agradar,E não surgisse em mim a pavorosa ciência de ver.Para que me tornaste eu? Deixasses-me ser humano!Feliz o homem marçanoQue tem a sua tarefa quotidiana normal, tão leve ainda que pesada,Que tem a sua vida usual,Para quem o prazer é prazer e o recreio é recreio,Que dorme sono,Que come comida,Que bebe bebida, e por isso tem alegria.A calma que tinhas, deste-ma, e foi-me inquietação.Libertaste-me, mas o destino humano é ser escravo.Acordaste-me, mas o sentido de ser humano é dormir.”

Fernando Pessoa
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“Portanto - disse a Srta. Tilney -, a senhorita crê que os historiadores não são felizes ao deixar sua imaginação voar. Eles demonstram possuí-la, mas não conseguem despertar o interesse. Eu gosto de História, e não me importo de aceitar o que é falso junto com o que é verdadeiro. Para descrever os fatos principais, eles buscam informações em registros e em outros livros que são tão confiáveis, creio eu, quanto qualquer coisa que não se passe diante de nossos próprios olhos. E quanto aos pequenos adornos aos quais se refere, são apenas adornos, e gosto deles como tal. Se um discurso for bem escrito, eu o lerei com prazer, não importa quem seja o autor. E leio com mais prazer ainda se tiverem sido produzidos pelo Sr. Hume e pelo Sr. Robertson do que se fossem as palavras genuínas de Caractacus, Júlio Agrícola ou ALfredo, o Grande.”

Jane Austen
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