“- Com mil raios! - exclamou de repente o Cruges, saltando de dentro da manta, com um berro que emudeceu o poeta, fez voltar Carlos na almofada, assustou o trintanário.O break parara, todos o olhavam suspensos; e, no vasto silêncio da charneca, sob a paz do luar, Cruges, sucumbindo, exclamou:- Esqueceram-me as queijadas!”

Eça de Queirós

Eça de Queirós - “- Com mil raios! - exclamou de repente...” 1

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“O homem veio das cavernas primitivas e no fundo de seu cérebro foi construindo mitos que o ajudavam a entender as forças da natureza; uma natureza violenta, que o batia com suas tempestades, seus raios; com os vulcões, as neves e o frio doloroso; com a fome, a sede, as feras bravias que o impediam de dormir em paz. Mas, principalmente, o assediava com a doença, um acontecimentos incompreensível, que rompia todo o senso, toda a vida. Daí surgiram os deuses, a magia, a necessidade de se aplacar com a fé as forças do desconhecido.”

Murilo Carvalho
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“De repente do riso fez-se o prantoSilencioso e branco como a brumaE das bocas unidas fez-se a espumaE das mãos espalmadas fez-se o espanto.De repente da calma fez-se o ventoQue dos olhos desfez a última chamaE da paixão fez-se o pressentimentoE do momento imóvel fez-se o drama.De repente, não mais que de repenteFez-se de triste o que se fez amanteE de sozinho o que se fez contente.Fez-se do amigo próximo o distanteFez-se da vida uma aventura erranteDe repente, não mais que de repente.”

Vinicius de Moraes
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“Melhoramos uma religião se o altar voltar a ser a mesa da refeição, tal como aconteceu na sua génese. Partilhar o pão para que, podendo todos ver a suas necessidades básicas cumpridas, se possam dedicar a encontrar Deus. Há dois tipos de Deus: o que nasce de barriga vazia, terroso, carnal, necessário para criar uma sensação de amparo e justiça num mundo em que não há nada disso. O segundo é um luxo, fruto de elucubrações. Não precisamos dele, mas ainda assim fazemo-lo existir. É feito de argumentos. Nasce de barrigas cheias. No primeiro acreditamos com o corpo, com o fígado, com o estômago, com os rins e com o sangue. No segundo acreditamos com a cabeça.”

Afonso Cruz
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“Tomemos um exemplo: o eleitor que não quer votar com o Governo. Ei-lo, aí, junto da urna da oposição, com o seu voto hostil na mão, inchado do seu direito. Se, para o obrigar a votar com o Governo o empurrarem às coronhadas e às cacetadas, o homem volta-se, puxa de uma pistola – e aí temos a guerra civil. Para que esta brutalidade obsoleta? Não o espanquem, mas, pelo contrário, acompanhem-no ao café ou à taberna, conforme estejamos no campo ou na cidade, paguem-lhe bebidas generosamente, perguntem-lhe pelos pequerruchos, metamlhe uma placa de cinco tos-tões na mão e levem-no pelo braço, de cigarro na boca, trauteando o Hino, até junto da urna do Governo, vaso do Poder, taça da Felicidade! Tal é a tradição humana, doce, civilizada, hábil, que faz com que se possa tiranizar um País, com o aplauso do cidadão e em nome da Liberdade.”

Eça de Queirós
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“Com cuidado, o Bento desenrolara o frasco, estendendo sobre o mármore da cómoda o pergaminho duro, onde a letra do século XVI se encarquilhava amarela e morta. E Gonçalo, abotoando o colarinho:- Ora aí está o que eu levo preciosamente, para deslindar o foro de Praga! Um pergaminho do tempo de D. Sebastião... E só percebo mesmo a data, mil quatrocentos... Não, mil quinhentos e setenta e sete. Nas vésperas da jornada de África... Enfim, serviu para embrulhar o frasco.”

Eça de Queirós
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