“Observou a doce ondulação das águas a rebentar na praia. Porque é que o mar sempre em movimento era tão calmante, tão infinitamente sedutor?”
“Ai dor! Era-me preciso enterrar magnificamente os meus amores. Eles lá iam, mar em fora, no espaço e no tempo, e eu ficava-me ali numa ponta de mesa, com os meus quarenta anos, tão vadios e tão vazios; ficava-me para os não ver nunca mais, porque ela poderia tornar e tornou, mas o eflúvio da manhã quem é que o pediu ao crepúsculo da tarde?”
“É tão difícil seja para quem for mostrar-nos o que parecemos e tão difícil para nós mostrarmos o que sentimos.”
“Elas têm ossos como patas nas nadadeiras. Mãos e dedos. Fico pensando se esse hábito de migrar pra cá e ficar na beira da praia não tem a ver com uma nostalgia do passado. Da ancestralidade terrestre. Imaginava uma baleia ali no rasinho, quase na praia. O que será que ela sente? Pode ser que veja a fronteira de um outro mundo remoto e mortífero, tão ameaçador quanto o mar é pra gente. Mas pode ser que seja como voltar pra casa. Como voltar pro útero da mãe. Uma coisa tentadora. Vai ver que é por isso que elas encalhem sem motivo aparente. Porque o mar não tem limites. O terror do oceano tá nisso. É o útero ao contrário. Acho que as baleias vivem esse terror.”
“Adoro ver os barcos no rio Hudson, mas é muito diferente de estar num que balança e galga as ondas. Admira-me que a viagem seja tão agitada, porque do cais os barcos parecem deslizar sobre a água. Não se passa o mesmo com o amor? Parece tão simples e fácil à distância – mas quando estamos nele, é uma experiência diferente. Sentimos cada solavanco e perguntamos que onda nos irá derrubar, se iremos sobreviver ou afogar-nos na água traiçoeira, se nos safaremos ou se nos iremos virar?”
“Canetti e creio que também Borges, dois homens tão diferentes, disseram que assim como o mar era o símbolo ou o espelho dos ingleses, o bosque era a metáfora onde viviam os alemães.”