“mesmo que eu o derrubasse vinte vezes, isso não o tornaria menos bonito, nem a mim menos feio. (...) - Um bom coração ajuda a ter um belo rosto, meu rapaz, mesmo que a pessoa seja monstruosa. Sabias que um coração empedernido é capaz de tornar a pessoa mais bonita num verdadeiro monstro.”
“O verdadeiro amor é um fogo no coração. É um sentimento alegre e maravilhoso. Uma magnífica agonia. É ser incapaz de comer, de pensar e nem sequer de respirar a menos que se esteja perto do objecto no nosso afecto. É não nos sentirmos completos sem essa pessoa...”
“Eu queria um dia escrever um livro. Eu não queria plantar uma árvore. Não queria um filho. Queria só um livro. Queria ler um livro que eu mesmo escrevesse. Um escritor disse uma coisa um dia. Eu não sei quem ele era. Só ouvi alguém dizer o que ele teria dito. Parecia arrogância, mas não era. Era auto-suficiência. Parece que perguntaram para ele o que ele lia, ou o quê ele estava lendo. “Quando quero ler um livro, eu mesmo o escrevo”. Eu queria ter dito isso. Eu queria poder escrever. Mas em mim só encontro o silêncio. E por isso, eu não sei escrever. Escrever, é claro que eu sei. Só não sei escrever um livro. Não consigo encontrar as palavras. Não consigo encontrar as palavras nas palavras. Só encontro minha voz, no que penso. Mas o que eu penso, ninguém ouve. O que eu penso é silêncio. Então eu me calo. O silêncio é minha voz.O silencio é a voz que eu calo.O silêncio é a voz que eu guardo.O silêncio, é lá onde eu moro.O silêncio sou eu.”
“Houve um poeta que me disse que o mundo, tal como está, pode matar. Não vou deixar que isso aconteça, sei bem que tenho uns ferros no coração e que de repente posso começar a escorregar para dentro de mim mesmo. Então não se consegue parar. Foi isso mesmo que o Zeca Afonso disse no ouvido da mulher quando estava a morrer: Não consigo parar. Sei perfeitamente o que ele queria dizer. Mas não vou deixar que o mundo, tal como está, dê cabo de mim. Tenho as minhas canas de pesca e as minhas espingardas. É sempre possível ir aos robalos, dar uns tiros. Ou então pegar na caneta e vir para aqui falar contigo. Um cão nunca abandona o dono. Mesmo que não te veja sei que estás aí: é quanto me chega. As minhas armas e eu. O meu cão e eu.”
“Devia ter sido um palhaço. Isso ter-me-ia proporcionado o mais vasto campo de expressão. Mas subestimava a profissão. Se me tivesse tornado palhaço, ou até actor de vaudeville, teria sido famoso. As pessoas não me teriam compreendido, mas teriam compreendido que eu não era para ser compreendido. Isso pelo menos teria sido um alívio.”
“- Um dia, um marciano sábio vem à terra para ensinar umas coisinhas às pessoas - começo.- Um marciano? De que tamanho?-Oh, mais ou menos um metro e noventa.-Como é que se chama?- Marciano Luther King.(...)- Era um marciano muito simpatico, o senhor King. Era parecido connosco, nariz, boca, cabelo na cabeça, mas algumas pessoas olhavam para ele de maneira estranha e, bem às vezes acho que as pessoas eram mesmo más.(...)- Porquê Aibee? Porque eram maus para ele?- Porque ele era verde.”