“O resto é a vida que nos deixa, a chama que morre no nosso olhar, a púrpura gasta antes de a vestirmos, a lua que vela o nosso abandono, as estrelas que estendem o seu silêncio sobre a nossa hora de desengano. Assídua a mágoa estéril e amiga que nos aperta o peito com amor.(Meu destino é a decadência)”
“É no ácido desoxirribonucleico que devem procurar os vossos segredos. O homem é que é um Deus e no centro do universo tem um ácido impronunciável que, na verdade, é a abreviatura de uma das palavras mais longas do mundo, o nosso próprio nome, um código feito com quatro blocos, quatro letras, e que nos define enquanto persona, que nos caracteriza o Eu. O nosso Deus abscôndito não passa de um ácido.”
“Cada um de nós tem dentro de si alguma coisa que não pode ser negada, ainda que nos faça grita, gritar, até ao fim. Somos o que somos, e pronto. Como a velha lenda celta do pássaro com o espinho no peito que canta até morrer, porque precisa de fazê-lo, porque é levado a isso. Podemos saber que vamos errar até antes de cometermos o erro, mas o conhecimento de nós mesmos não afecta nem altera o resultado. Cada qual entoa o seu cântico, convencido de que é o mais maravilhoso que o mundo já ouviu. Não vês? Criámos os nossos espinhos e nunca nos detivemos para avaliar o custo. A única coisa que podemos fazer é sofrer a dor e dizer intimamente que valeu a pena.”
“Exigem-nos tudo o que nos dão. É preciso regá-los regularmente: é nos ombros deles que cai toda a água dos nossos olhos. Eles espevitam-nos o sentido de humor quando menos nos apetece. E depois ficam conosco quando as luzes se apagam e toda a gente se foi embora. Só aos amigos é dado o espectáculo da nossa miséria”
“A única coisa de que dispomos, para acreditar, são os nossos sentidos, as ferramentas que utilizamos para apreender o mundo: a nossa vista, o nosso tacto, a nossa memória. Se os nossos sentidos nos mentirem, então não podemos confiar em nada. E mesmo que não acreditemos, ainda assim não podemos seguir por nenhum outro caminho além daquele que os nossos sentidos nos mostram; e esse caminho, temos de o percorrer até o fim.”
“Qualquer que seja ou venha a ser o nosso destino, somos nós que o fazemos, e não nos lamentamos.”