“Que importa àquele que já nada importaQue o um perca e outro vença,Se a aurora raia sempre,Se cada ano com a primaveraAparecem as folhasE com o outono cessam?”
“Se um homem escreve bem só quando está bêbado dir-lhe-ei: embebede-se. E se ele me disser que o seu fígado sofre com isso, respondo: o que é o seu fígado? É uma coisa morta que vive enquanto você vive, e os poemas que escrever vivem sem enquanto.”
“Aquilo que, creio, produz em mim o sentimento profundo, em que vivo, de incongruência com os outros, é que a maioria pensa com a sensibilidade, e eu sinto com o pensamento.Para o homem vulgar, sentir é viver e pensar é saber viver. Para mim, pensar é viver e sentir não é mais que o alimento de pensar.”
“Não sou, como disse Goethe, o espírito que nega, mas o espírito que contraria. (...) Porque contrariar actos, por maus que sejam, é estorvar o giro do mundo, que é acção. Mas contrariar ideias é fazer com que se abandonem, e se caia no desalento e de aí no sonho e portanto se pertença ao mundo”
“Já repeti o antigo encantamento,E a grande Deusa aos olhos se negou. Já repeti, nas pausas do amplo vento, As orações cuja alma é um ser fecundo. Nada me o abismo deu ou o céu mostrou. Só o vento volta onde estou toda e só, E tudo dorme no confuso mundo."Outrora meu condão fadava, as sarças E a minha evocação do solo erguia Presenças concentradas das que esparsas Dormem nas formas naturais das coisas. Outrora a minha voz acontecia.Fadas e elfos, se eu chamasse, via.E as folhas da floresta eram lustrosas."Minha varinha, com que da vontadeFalava às existências essenciais,Já não conhece a minha realidade.Já, se o círculo traço, não há nada. Murmura o vento alheio extintos ais,E ao luar que sobe além dos matagaisNão sou mais do que os bosques ou a estrada."Já me falece o dom com que me amavam.Já me não torno a forma e o fim da vidaA quantos que, buscando-os, me buscavam.Já, praia, o mar dos braços não me inunda.Nem já me vejo ao sol saudado ergUida,Ou, em êxtase mágico perdida, Ao luar, à boca da caverna funda."Já as sacras potências infernais,Que, dormentes sem deuses nem destino,À substância das coisas são iguais,Não ouvem minha voz ou os nomes seus. A música partiu-se do meu hino.Já meu furor astral não é divinoNem meu corpo pensado é já um deus."E as longínquas deidades do atro poço, Que tantas vezes, pálida, evoqueiCom a raiva de amar em alvoroço, lnevocadas hoje ante mim estão.Como, sem que as amasse, eu as chamei, Agora, que não amo, as tenho, e seiQue meu vendido ser consumirão."Tu, porém, Sol, cujo ouro me foi presa, Tu, Lua, cuja prata converti,Se já não podeis dar-me essa belezaQue tantas vezes tive por querer,Ao menos meu ser findo dividi Meu ser essencial se perca em si,Só meu corpo sem mim fique alma e ser!"Converta-me a minha última magiaNuma estátua de mim em corpo vivo! Morra quem sou, mas quem me fiz e havia, Anônima presença que se beija,Carne do meu abstrato amor cativo,Seja a morte de mim em que revivo;E tal qual fui, não sendo nada, eu seja!”
“Toda a compreensão é imperfeita porque, quanto mais se expande, em maiores fronteiras confina com o incompreensível que a cerca.”
“O que é preciso é ser-se natural e calmo Na felicidade ou na infelicidade, Sentir como quem olha, Pensar como quem anda, E quando se vai morrer, lembrar-se de que o dia morre, E que o poente é belo e é bela a noite que fica...”