“Arranco um empecilho da bota aqui, arremesso outro da meia ali; dançando numa separação de mistura onde a solução me reserva uma fase distinta, longe das toxinas alheias.”
“Uma relação de duas pessoas converteu-se numa de três, numa coisa mais triangular. Só uma relação que consegue formar um polígono consegue sobreviver, pensava Borja. Quando assenta em dois pontos, não resiste ao tempo, é um segmento de recta muito frágil. É um pontinho a olhar para outro pontinho, não tem a solidez do triângulo e, muito menos, da circunferência. Parte-se como um palito.”
“O que me põe louco é a natureza dupla desta ninfeta - de todas as ninfetas, quiçá; esta mistura, na minha Lolita, de uma infantilidade terna e sonhadora com uma espécie de horripilante ordinarice, que provém das enfadonhas modelos fotográficas da publicidade e das revistas, com os seus narizinhos travessos...”
“Estar na Europa era assim. Uma ponte para a infância, que conduzia ao outro lado do oceano, através de florestas, até as paisagens primordiais da minha imaginação. De um jeito ou de outro, eu havia ido a muitos lugares, do México ao Maine - e pensar que tive de ir até a Europa para poder voltar a minha cidade natal, minha lareira, meu quarto onde histórias e lendas pareciam sempre extrapolar os limites municipais. Ali moravam as lendas: na lira, no castelo, no farfalhar das asas dos cisnes.”
“Não me cantem canções da luz do dia / Pois o sol é o inimigo dos amantes / Cantem das sombras e da escuridão / E das lembranças da meia-noite.”
“Eu não desejo favores nem serventia; eu desejo contato; contato com o outro, atrito abrasivo onde nos despedaçamos numa solução corrosiva dos nossos problemas.”