“Na ausência de necessidades fisiológicas arranjei um pomar de instantes pelos quais me debruçar e entardeci.”
“Eu enigmatizo a minha vida na esperança de que alguém a resolva. Entre a minha e a do outro há um labirinto de cartas de amor e pedidos de socorro.”
“Levei meu aparelho digestivo para a assistência técnica, lá me disseram que a validade já venceu, eu então apelei pro tráfico de órgãos onde comprei dois pelo preço de um, posso enfim voltar a engolir as porcarias com as quais antes eu me engasgava por não fazer parte do esquema.”
“O tempo se desprende de mim a pirulitar pelos ares de um vento que muito bem podia me esfarelar de vez também.”
“Guardo na chuva premonições as quais o vento, correnteza de vozes sussurra a meus ouvidos.”
“Ponho um punhado de atenção nessa tua vida clonada pelo mimetismo, escravizada pelas instituições.”
“Me alimento de farelos e migalhas chafurdando na radiação cósmica de fundo, devorando a própria tessitura tectônica do que existe.”