“Ouço a setlist do palhaço.”
“No uivo da tua carne eu ouço o da minha.”
“Devia ter sido um palhaço. Isso ter-me-ia proporcionado o mais vasto campo de expressão. Mas subestimava a profissão. Se me tivesse tornado palhaço, ou até actor de vaudeville, teria sido famoso. As pessoas não me teriam compreendido, mas teriam compreendido que eu não era para ser compreendido. Isso pelo menos teria sido um alívio.”
“As vezes ouço passar o vento; e só de ouvir o vento passar, vale a pena ter nascido”
“Refratado por lágrimas eu ouço cada nostalgia, agasalhado por aplausos eu visto apenas celebração, atormentado por paixões eu conjulgo toda profecia.”
“Do patamar onde me encontro, ouço o som do relato do Portugal-Espanha e de uma vuvuzela que parece responder aos meus brados. Quando o mundo à minha volta se cala, percebo que Portugal só pode ter perdido o jogo e adormeço de costas para uma rocha.Acordo na madrugada de dia 30, sob o céu estrelado do Marão, uma lua muito branca a irromper entre a giesta e uma voz chamando-me no topo da parede de rocha do outro lado da montanha. No topo da fraga oposta, duas luzes irrompem como pequenos e frágeis faróis. Uma voz ecoa na garganta de pedra: “Senhor Nuno! Senhor Nuno, está bem?” Levanto-me e grito: “Estou aqui!” Cedo percebo que os escuto melhor do que eles a mim. “Está ferido?”, pergunta a mesma voz. “Não, estou bem”, respondi. “Tenha calma, nós vamos tirá-lo daí!”.”