“Por via das dúvidas sem consentimento nem validação alheios estabilizo minha personalidade comendo amendoim.”
“Deitei-me.Fiquei ali, na pedra fria do passeio. As pessoas a passarem e eu, alheio, deixei-me estar jogado no seu meio. Na minha cama. No meu drama. Nem sequer era de pedra. Era uma cama com muito menos poesia no existir. Era um coração apaixonado sem sentir. Era cimento. Era leito dado ao desconforto de me cobrir com lençóis feitos de vento.”
“RetratoEu não tinha este rosto de hoje,assim calmo, assim triste, assim magro,nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo.Eu não tinha estas mãos sem força,tão paradas e frias e mortas;eu não tinha este coração que nem se mostra.Eu não dei por esta mudança,tão simples, tão certa, tão fácil:Em que espelho ficou perdida a minha face?”
“À minha frente, Marc parece muito triste; no entanto, ele é que tem sorte: Pensa em Damira, e tenho a certeza que também ela pensa nele se ainda estiver viva. Nenhum carcereiro, nenhum torcionário poderá manter prisioneiros esses pensamentos. Os sentimentos viajam através das grades mais estreitas, seguem sem medo da distância e não conhecem as fonteiras das línguas, nem das religiões, juntam-se para lá das prisões inventadas pelos homens.”
“Estabilizo meu humor com suco de tangerina, mas nem todos ácidos e açúcares conseguem minimizar a gravidade apocalíptica do desejo.”
“Bran dissera, uma vez, que a confiança era um conceito sem qualquer significado. Mas, se não podíamos confiar, ficávamos sós, porque nem a amizade, nem a sociedade, nem a família, nem a aliança, podiam existir sem confiança. Sem ela ficávamos dispersos, à mercê dos quatro ventos, sem nada a que nos agarrarmos.”