“Podes despedir-te da tua família e dos teus amigos e afastar-te milhares de quilómetros, mas, ao mesmo tempo, leva-los no teu coração, na tua mente, no teu estomâgo, pois não só vives no mundo, mas o mundo vive em ti”
“Hoje sabemos que dia é o nosso, amanhã quem o dirá, Emprestam-te uma espingarda, mas nunca te disseram que a apontasses ao latifúndio, Toda a tua instrução de mira e fogo está virada contra o teu lado, é para o teu próprio e enganado coração que olha o buraco do cano da tua arma, não percebes nada do que fazes e um dia dão-te voz de atirar, e matas-te”
“podes estar apaixonada e ao mesmo tempo incrivelmente só. Podes ter tudo o que sempre quiseste só para te dares conta que tudo o que querias estava errado. Podes ter um marido inteligente atraente e cheio de compaixão como o meu e mesmo assim não o ter na realidade. E algumas vezes podes olhar para a tua filha linda e preciosa e ficar genuinamente ciumenta de quanto ele a ama em vez de ti.”
“E quando à tua frente se abrirem muitas estradas e não souberes a que hás-de escolher, não metas por uma ao acaso, senta-te e espera. Respira com a mesma profundidade confiante com que respiraste no dia em que vieste ao mundo, e sem deixares que nada te distraia, espera e volta a esperar. Fica quieta, em silêncio, e ouve o teu coração. Quando ele te falar, levanta-te, e vai para onde ele te levar.”
“Digo-te, ó sagrado Baal do céu, que não existes. Mas, se existisses, eu te amaldiçoaria de tal modo que esse teu céu palpitaria com o fogo do inferno. Em verdade te digo: ofereci-te meus serviços e tu os recusaste; repeliste-me, e hoje eu te viro as costas para sempre, pois nunca soubeste conhecer a hora da Visitação. Em verdade te digo: sei que vou morrer, e, não obstante, com a morte diante dos olhos, eu te desprezo, ó celeste Ápis. Empregaste contra mim a força, e não sabes que jamais me dobrei perante a adversidade. Pois deverias sabê-lo. Por acaso dormias quando plasmaste meu coração? Em verdade te digo: durante toda a vida, cada gota de sangue em minhas veias sentirá alegria em desprezar-te e escarnecer de tua Graça. A partir deste momento, renuncio a ti, a tuas pompas e tuas obras; lançarei o anátema sobre meu pensamento, se jamais ele te pensar; arrancarei os lábios se jamais eles pronunciarem teu nome. Se existires, digo-te a última palavra da vida e da morte: digo-te adeus. Depois, calo-me, viro-te as costas e sigo meu caminho.”
“Pedro, Pedro, é do teu silêncio que eu preciso agora, levante as viseiras, passeie os olhos, solte-lhes as rédeas, mas contenha a força e o recato da família, e o ímpeto áspero da tua língua, pois só no teu silêncio úmido, só nesse concerto esquivo é que reconstituo, por isso molhe os lábios, molhe a boca, molhe os teus dentes cariados, e a sonda que desce para o estômago, encha essa bolsa de couro apertada pelo teu cinto, deixe que o vinho vaze pelos teus poros, só assim é que se cultua o obsceno”