“Eu chegara ao limiar da adolescência e ainda me ocultava entre as raízes das grandes árvores do bosque para me contar histórias. Uma agulha de pinheiro podia representar para mim um cavaleiro ou uma dama ou um bufão; movimentava-a diante de meus olhos e me exaltava em relatos intermináveis. Depois ficava com vergonha dessas fantasias e fugia.”

Italo Calvino
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“O inferno dos vivos não é uma coisa que virá a existir; se houver um, é o que já está aqui, o inferno que habitamos todos os dias, que nós formamos ao estarmos juntos. Há dois modos para não o sofrermos. O primeiro torna-se fácil para muita gente: aceitar o inferno e fazer parte dele a ponto de já não o vermos. O segundo é arriscado e exige uma atenção e uma aprendizagem contínuas: tentar e saber reconhecer, no meio do inferno, quem e o que não é inferno, e fazê-lo viver, e dar-lhe lugar.”


“Nunca escrevi uma história ou romance com o intuito de simplesmente enviar uma mensagem política direta, tal como ‘parem de construir assentamentos nos territórios ocupados’ ou ‘reconheçam o direito dos palestinos a Jerusalém Oriental’. Nunca escrevo um romance alegórico a fim de dizer a meu povo ou a meu governo para fazer isso ou aquilo. Para isso, utilizo meus artigos. Se há uma mensagem metapolítica em meus romances, é sempre uma mensagem, de uma maneira ou de outra, de um compromisso, compromisso doloroso, e da necessidade de escolher a vida em lugar da morte, a imperfeição da vida em lugar das perfeições da morte gloriosa. p. 98/9.”


“Mole. E enjoada comigo mesma como se me tivesse provado. Um pedaço de pão que depois de se mastigar durante muito tempo acabasse sabendo mal. Sabendo a mim própria, aos meus próprios sucos. Cuspi-me com desagrado para cima da cama e aqui fiquei líquida e espapaçada. É um estado de espírito entre calmo e desesperado com uma leve ansiedade à mistura. Por vezes sinto medo desta solidão maior do que nunca foi, imensa. Para onde quer que me volte só dou comigo mesma. Mas já me vi bastante e acabo de reparar que nada mais tenho a dizer-me. Nada mais.”


“Eu giro em todos sentidos e direções, mas ao atravessar determinado meio a matéria do mesmo esquarteja-me retendo fragmentos cinéticos de mim e com o pescoço travado pela polarização eu mal consigo olhar pros meus irmãos capturados enquanto rumo adiante ou individuo-me múltiplas vezes para vias distintas em função de alguma arbitrariedade discriminante qualquer.”


“Resta-nos esclarecer a parte que nesse golfo fantástico cabe ao imaginário indireto, ou seja, o conjunto de imagens que a cultura nos fornece, seja ela cultura de massa ou outra forma de tradição. Esta questão suscita de imediato uma outra: que futuro estará reservado à imaginação individual nessa que se convencionou chamar a "civilização da imagem"? O poder de evocar imagens [i]in absentia[/i] continuará a desenvolver-se numa humanidade cada vez mais inundada pelo dilúvio das imagens pré-fabricadas? Antigamente a memória visiva de um individuo estava limitada ao patrimônio de suas experiências diretas e a um reduzido repertório de imagens refletidas pela cultura; a possibilidade de dar forma a mitos pessoais nascia do modo pelo qual os fragmentos dessa memória se combinavam entre si em abordagens inesperadas e sugestivas. Hoje somos bombardeados por uma tal quantidade de imagens a ponto de não podermos distinguir mais a experiência direta daquilo que vimos há poucos segundos na televisão. Em nossa memória se depositam, por estratos sucessivos, mil estilhaços de imagens, semelhantes a um depósito de lixo, onde é cada vez menos provável que uma delas adquira relevo”


“E é justo? E é possível que uma coisa tão pequena como uma pistola ou uma navalha possa dar cabo de um homem, que é um touro? Nao vou me calar nunca. Os meses passam e o desespero me perfura os olhos e pica até nas pontas do cabelo.”