“Os meus sentimentos não se manifestam por dá cá aquela palha. O meu temperamento poderia talvez ser classificado de vingativo. A minha opinião, uma vez perdida, fica perdida para sempre.”
“Por um instante, vislumbrei Max na cama, o corpo nu forte e suado colado ao meu, os cabelos desgrenhados, a pela levemente corada pelo esforço físico, a mão grande brincando com meus cabelos, meu rosto, os lábios se abrindo num sorriso sensual antes de descer para cobrir minha boca mais uma vez...”
“A água da minha memória devora todos os reflexos. Desfizeram-se, por isso, todas as minhas presençase sempre se continuarão a desfazer. É inútil o meu esforço de conservar-me; todos os dias sou meu completo desmoronamento”
“Senti tão intensamente o momento que o consumi por completo de uma vez só. E dele não sobreviveu lembrança alguma para vagar em minha memória.”
“Cada vez sinto menos vontade de estar com os outros. Dou por mim a fazer uma espécie de lenta retirada social. Visito cada vez menos os amigos, até deixar de os ter. Se os visse, na certa, iriam fazer-me perguntas a que não quero responder e também não desejo perder o meu tempo a ouvir os seus dramas. Por isso, forço-me ao isolamento. Mas, nem sempre fui assim. Penso que há uma parte de mim que deixou de funcionar e, por causa disso, sou incapaz de manter o interesse de estar com pessoas. Nessas alturas imagino-me a passar o resto da vida sozinho, lendo, vendo filmes, passeando de um lado para o outro sem propósito.”
“Os meus olhos deviam ter a mesma expressão nos últimos anos, mas nunca notei. Bem que me olhava no espelho para ver que cara a pessoa tem quando sofre muito, mas era sempre o meu rosto. Cada vez mais achava que devia ter mudado muito, não se podia ser a mesma depois de tanta coisa, de tanta dor. Contudo, era eu.”