“Desejava uma verdadeira livraria tal como um viciado deseja uma dose. Não havia mesmo nada melhor do que aquele maravilhoso cheiro a livros novos, tocar nas capas e folhear um livro, cujas páginas, se calhar, nunca tinham sido folheadas.(...)Há pessoas obececadas e apaixonadas por sapatos. Os sapatos eram bonitos, mas não se podia ficar a noite toda acordade a ler um par, pois não?”
“Ninguém quer extraviar um livro. Preferimos perder um anel, um relógio, o chapéu-de-chuva, do que o livro cujas páginas não mais leremos mas que conservam, na sonoridade do seu título, uma antiga e talvez perdida emoção.”
“Entrei numa livraria. Pus-me a contar os livros que há para ler e os anos que terei de vida. Não chegam! Não duro nem para metade da livraria! Deve haver certamente outras maneiras de uma pessoa se salvar, senão… estou perdido.”
“E agora tinha a certeza de uma coisa vislumbrada ao princípio (...) que não há dois livros iguais porque nunca houve dois leitores iguais. E que cada livro lido é, como cada ser humano, um livro singular, uma história única e um mundo à parte.”
“Apenas se deviam ler os livros que nos picam e que nos mordem. Se o livro que lemos não nos desperta como um murro no crânio, para quê lê-lo?”
“Rosário nunca pensara na felicidade apenas como uma consequência natural das coisas boas que se fazem. Tal como a maioria das pessoas, sempre viu a felicidade como um objectivo por si mesma. E, tal como essa maioria das pessoas, não tinha percebido que, quando encarada como um objectivo, a felicidade torna-se demasiado grande para caber nas coisas que se fazem e passa a assombrar todas as coisas que se querem. A obsessão afasta a felicidade do coração. Ignoram-se coisas boas, porque um coração obcecado acha-as insuficientes. E, infelizmente, um coração obcecado pode não ver a felicidade quando ela está mesmo ali ao lado. Ou à sua frente.”