“Então eu acho que se deve experimentar, é uma burrice não experimentar. Quem não usa nada, nem secretamente, é um perigoso louco que possivelmente mataria alguém.”
“Eu queria um dia escrever um livro. Eu não queria plantar uma árvore. Não queria um filho. Queria só um livro. Queria ler um livro que eu mesmo escrevesse. Um escritor disse uma coisa um dia. Eu não sei quem ele era. Só ouvi alguém dizer o que ele teria dito. Parecia arrogância, mas não era. Era auto-suficiência. Parece que perguntaram para ele o que ele lia, ou o quê ele estava lendo. “Quando quero ler um livro, eu mesmo o escrevo”. Eu queria ter dito isso. Eu queria poder escrever. Mas em mim só encontro o silêncio. E por isso, eu não sei escrever. Escrever, é claro que eu sei. Só não sei escrever um livro. Não consigo encontrar as palavras. Não consigo encontrar as palavras nas palavras. Só encontro minha voz, no que penso. Mas o que eu penso, ninguém ouve. O que eu penso é silêncio. Então eu me calo. O silêncio é minha voz.O silencio é a voz que eu calo.O silêncio é a voz que eu guardo.O silêncio, é lá onde eu moro.O silêncio sou eu.”
“- (...) Só falou nisso de a Vida ser um jogo e assim. Sabe como é.- A Vida é um jogo, meu rapaz. A Vida é um jogo que se joga seguindo as regras.- Pois é, senhor professor. Eu sei que é. Eu sei.Um jogo, uma ova. Raio de jogo. Se calhamos do lado onde estão todos os craques, está bem que é um jogo... Concordo que é. Mas se calhamos do outro lado, onde não há craques nenhuns, então onde é que está o jogo? Nada. Jogo coisa nenhuma.”
“Viver - não é? - é muito perigoso. Porque ainda não se sabe. Porque aprender-a-viver é que é o viver, mesmo.”
“Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo.”
“- O vento também é eterno. Nunca acaba. Quando o vento entra no nosso corpo, nascemos, e, quando sai, é porque morremos, por isso temos de ser amigos do vento.- E...este...- Já nem sabes o que perguntar. É melhor guardares silêncio, não gastes a tua saliva. A saiva é água sagrada que o coração cria. A saliva não deve gastar-se em palavras inúteis porque então estaremos a desperdiçar a água dos deuses e olha, vou dizer-te uma cois que não deves esquecer: se as palavras não servirem para humedecer os outros a lembrança e conseguir que aí floresça a memória de deus, não servem para nada.”