“Ainda que talvez, em falta de outro,Com grosseiras ações o povo exorte,Gritando sempre, e sempre repetindo,Que do bom Pai Adão a triste raçaPor degraus degenera, e que este mundoPiorando envelhece.”
“Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,Ainda que não more nela;Serei sempre... o que não nasceu para isso;Serei sempre... só o que tinha qualidades;Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,E ouviu a voz de Deus num poço tapado.Crer em mim? Não, nem em nada.”
“Dormiu sem o saber, mas sabendo que continuava viva no sono, que lhe sobrava metade da cama e que estava deitada de costas do lado esquerdo, como sempre, mas que lhe fazia falta o contrapeso do outro corpo no outro lado. Pensando em sonhos, pensou que nunca mais poderia dormir assim e, em sonhos, começou a soluçar sem mudar de posição no seu lado, até muito depois de terem acabado de cantar os galos, e acordou-a o sol indesejável da manhã sem ele.”
“Talvez seja sempre a pimenta que torna as pessoas esquentadas [...] e o vinagre que as torna azedas... e a camomila que as torna amargas... e... o caramelo e essas coisas que tornam as crianças suaves. Só queria que as pessoas soubessem disto: não seriam tão sovinas com bomboms...”
“Mas, não obstante, eu acrescento que em qualquer pensamento genial ou no novo pensamento humano, ou simplesmente até em qualquer pensamento humano sério, que medra da cabeça de alguém, sempre resta algo que de maneira nenhuma se pode transmitir a outras pessoas, embora voc6e tenha garatujado volumes inteiros e passado trinta e cinco anos interpretando o seu pensamento; sempre restará algo que de maneira alguma desejará sair do seu crânio e permanecerá com você para todo o sempre; e assim você acaba morrendo sem ter transmitido a ninguém talvez o mais importante da sua idéia.”
“Que importa àquele que já nada importaQue o um perca e outro vença,Se a aurora raia sempre,Se cada ano com a primaveraAparecem as folhasE com o outono cessam?”