“É possível avançar por ruas durante toda a vida, perder as forças nas pernas, cair de joelhos e morrer, transformar-se lentamente, com a chuva, com os anos, no empedrado da calçada, diluir-se entre as pedras, como pó, como água, desaparecer.”
“Malinalli, como Quetzalcóatl, ao confrontar-se com o seu lado obscuro ganhou consciência da sua luz. A sua vontade de ser una com o cosmos fez com que os limites do seu corpo desaparecessem. Os seus pés, em contacto com a água inundada pela luz da lua, foram os primeiros a experimentar a mudança. Deixaram de a conter. O seu espírito fundiu-se com o da água e derramou-se pelo ar. A sua pele expandiu-se ao máximo, permitindo-lhe mudar de forma e integrar-se com tudo o que a rodeava. Foi nardo, foi laranjeira, foi pedra, foi aroma de copal, foi milho, foi peixe, foi ave, foi sol, foi lua. Abandonou este mundo.”
“E, todavia como é difícil explicar-me! Há no homem o dom perverso da banalização. Estamos condenados a pensar com palavras, a sentir com palavras, se queremos pelo menos que os outros sintam connosco. Mas as palavras são pedras.”
“(...) o peso da dor nada tem que ver com a qualidade da dor. A dor é o que se sente. Nada mais. Desisto definitivamente de me iludir com a minha força de adulto sobre o peso de uma amargura infantil. Exactamente porque toda a vida que tive sempre se me representa investida da importância que em cada momento teve. Como se eu jamais tivesse envelhecido. Exactamente porque só é fútil e ingénua a infância dos outros - quando se não é já criança.”
“O saber a gente aprende com os mestres e os livros. A sabedoria, se aprende é com a vida e com os humildes.”
“Lá não se diz ama; é querem-se. "Querem-me" é outra coisa; é amalgamarem-se num só ser, em uma só vontade, numa identidade de alma e corpo tal, e tão uma que nem sequer cogitam se há desgraça com força de desuni-los aquém da morte. E para lá da sepultura ainda eles têm como segura a vida imortal em união de penas ou glórias.”