“reflectido nas pedras do passeio. Lisboa é a nitidez através do ar. Lisboa é a cor manchada dos muros. Lisboa é o musgo novo a nascer sobre o musgo seco. Lisboa é o desenho de fendas, como relâmpagos, a escorrerem pela superfície dos muros. Lisboa é a imperfeição criteriosa. Lisboa é o céu reflectido”
“Lisboa é uma cidade onde o coração é vendido ao lado dos jornais do dia, e os dois produtos são caros porque tudo é efémero e tenho pressa. Perguntam-me: és louco? Que fazes a escrever em pé, no meio do passeio, a interromper pernas e casacos com negócios?”
“Tem propriedades em Lisboa e não precisa de trabalhar, mas vê a limpeza como uma missão: quer limpar o mundo. E não há nada melhor do que o chão, pois é aí que o mundo começa.”
“Depois do terramoto que destruíra três quartos de Lisboa, os sábios do país não acharam meio mais eficaz de prevenir uma ruína total que oferecer um belo Auto-da-fé; foi decidido pela Universidade de Coimbra que o espetáculo de algumas pessoas queimadas em lume brando, numa grande cerimónia, é um segredo infalível para impedir a terra de tremer.”
“O homem não difere do animal senão em saber que o não é. É a primeira luz, que não é mais que treva visível. É o começo, porque ver a treva é ter a luz dela. É o fim, porque é o saber, pela vista, que se nasceu cego. Assim o animal se torna homem pela ignorância que nele nasce”
“O cão é uma espécie de plataforma em que os sentimentos humanos se encontram. O cão se aproxima dos homens para interrogá-los sobre como é essa história de ser humano.”