“Deve-se a construção do convento de Mafra ao rei D. João V, por um voto que fez se lhe nascesse um filho, vão aqui seiscentos homens que não fizeram filho nenhum à rainha e eles é que pagam o voto, que se lixam, com perdão da anacrónica voz.”
“"Ter medo de errar é um erro. É sempre um erro. E é o único erro que não tem perdão. Sou maravilhado por quem erra. Por quem sabe que, por fazer, por tentar, pode errar. E são as melhores pessoas, convence-te disso, quem mais erra. São as pessoas que vão aos limites (e os ultrapassam sempre que lá chegam), que se testam como se não houvesse amanhã, como se o agora fosse tudo o que há para haver. E é: o agora é tudo o que há para haver.”
“Porque não contestam as mulheres a soberania do macho? Nenhum sujeito se coloca imediata e espontaneamente como não essencial; não é o Outro que, definindo-se como Outro, define o Um; ele é posto como Outro pelo Um definindo-se como Um. Mas para que o Outro não se transforme no Um é preciso que se sujeite a esse ponto de vista alheio. De onde vem essa submissão na mulher?”
“Ele se divertia silenciosamente com a reação indignada das pessoas diante das poucas linhas de um poema. Como é pequena a alma humana. Então não percebem que Maldoror , como ele nasceu perverso? Chocam-se com à maldade circunscrita à imaginação de um poeta obscuro, no entanto não se comovem com a crueldade que veem estampada na cidade quando passeiam, alegres, pelas ruelas imundas. O que dirão se souberem que estão na mesma sala com um ser muito mais cruel que qualquer criação dos livros? provavelmente se recusarão a acreditar desviando os olhos como fazem ao tropeçar nos negros e mendigos sujos que encontram no caminho. Se a paisagem é terrível fecha-se a janela, para ele é diferente, ele se alimenta dessa miséria cotidiana: a desgraça alheia é sempre um bálsamo espesso para sua solidão. O inferno alheio é o seu paraíso. Ele acha graça nos sermões dos padres que sempre sobrepõem o bem ao mal, como se ambos não fossem as duas faces da mesma pataca. Para ele o bem é o mal a crueldade afinal não passa de um ponto de vista.”
“Um dia que já lá vai D. João o Segundo, nosso rei, perfeito de cognome e a meu ver humorista perfeito, deu a certo fidalgo uma ilha imaginária, diga-me você se sabe doutro país onde pudesse ter acontecido uma história como esta, E o fidalgo, que fez o fidalgo, foi ao mar à procura dela, gostaria bem que me dissessem como se pode encontrar uma ilha imaginária. A tanto não chega a minha ciência, mas esta outra ilha, a ibérica, que era península e deixou de o ser, vejo-a eu como se, com humor igual, tivesse decidido meter-se ao mar à procura dos homens imaginários.”
“- Não sei se interprete as suas palavras como um galanteio, se não - replicou Scarlett, indecisa.- Não se trata de nenhum galanteio - explicou ele. - Quando é que perderá essa mania de imaginar galanteios em todas as palavras que os homens lhe dirigem?- Só depois de morta - respondeu ela.E sorriu, pensando que encontraria sempre homens que lhe dirigissem piropos, mesmo que Rhett nunca o fizesse.- Presunção e água benta cada qual toma a que quer - comentou Rhett. - Graças a Deus, tem ao menos uma virtude: a de ser sincera.”