“Nesse tempo, já me dera conta de que procurar era minha sina, emblema de todos aqueles que saem à noite sem qualquer finalidade exata, razão de todos os destruidores de bússolas.”

Julio Cortazar

Julio Cortazar - “Nesse tempo, já me dera conta de que...” 1

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“(...)sentou-se para descansar e em breve fazia de conta que ela era uma mulher azul porque o crepúsculo mais tarde talvez fosse azul, faz de conta que fiava com fios de ouro as sensações. faz de conta que a infância era hoje e prateada de brinquedos, faz de conta que uma veia não se abrira e faz de conta que dela não estava em silêncio alvíssimo escorrendo sangue escarlate, e que ela não estivesse pálida de morte mas isso fazia de conta que estava mesmo de verdade, precisava no meio do faz de conta falar a verdade de pedra opaca para que contrastasse com o faz de conta verde-cintilante, faz de conta que amava e era amada, faz de conta que não precisava morrer de saudade, faz de conta que estava deitada na palma transparente de Deus, não Lóri mas o seu nome secreto que ela por enquanto ainda não podia usufruir, faz de conta que vivia e não que estivesse morrendo pois viver afinal não passava de se aproximar cada vez mais da morte, faz de conta que ela não ficava de braços caídos de perplexidade quando os fios de ouro que fiava se embaraçavam e ela não sabia desfazer o fino fio frio, faz de conta que ela era sábia bastante para desfazer os nós de corda de marinheiro que lhe atavam os pulsos, faz de conta que tinha um cesto de pérolas só para olhar a cor da lua pois ela era lunar, faz de conta que ela fechasse os olhos e seres amados surgissem quando abrisse os olhos úmidos de gratidão, faz de conta que tudo o que tinha não era faz de conta, faz de conta que se descontraía o peito e uma luz douradíssima e leve guiava por uma floresta de açudes mudos e de tranqüilas mortalidades, faz de conta que ela não era lunar, faz de conta que ela não estava chorando por dentro.”

Clarice Lispector
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“Já agora creio que não basta que os pregões de rua, como os opúsculos de seminário, encerrem casos, pessoas e sensações; é preciso que a gente os tenha conhecido e padecido no tempo, sem o que tudo é calado e incolor.”

Machado de Assis
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“Todas as cartas de amor sãoRidículas.Não seriam cartas de amor se não fossemRidículas.Também escrevi em meu tempo cartas de amor,Como as outras,Ridículas.As cartas de amor, se há amor,Têm de serRidículas.Mas, afinal,Só as criaturas que nunca escreveramCartas de amorÉ que sãoRidículas.Quem me dera no tempo em que escreviaSem dar por issoCartas de amorRidículas.A verdade é que hojeAs minhas memóriasDessas cartas de amorÉ que sãoRidículas.(Todas as palavras esdrúxulas,Como os sentimentos esdrúxulos,São naturalmenteRidículas.)”

Fernando Pessoa
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“Os pensamentos que zoam no meu crânio são locatários de uma noite, meia dúzia de pares sem casa num ninho de amor passageiro, o fragor do guindaste da draga virá igualizar tudo, os momentos de deliciosa angústia do meu coração são roubados à sociedade de armadores que me emprega”

Stig Dagerman
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“Naquele tempo imaginávamo-nos fechados numa espécie de redil, à espera que nos soltassem para a vida. E, quando o momento chegasse, as nossas vidas - e o próprio tempo - acelarariam. Como podíamos saber que, de qualquer modo, as nossas vidas já haviam começado, que já levávamos vantagem, que algum dano já fora inflingido?”

Julian Barnes
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