“A humanidade, que ao longo de milhares de anos foi atormentada pela ideia falsa, bizarra e infeliz de que era dominada por uma figura paternal severa e quase cheia de ódio, no espaço de alguns dias descobriu o seu erro.Em vez dele, havia uma mãe.Enquanto a existência a cada momento se afastava, a uma velocidade crescente, do estado descritível para entrar num reino para o qual já não existiam palavras, A LÍNGUA COMEÇOU A MORRER.Um dos últimos fragmentos de linguagem dizia:SE DEUS EXISTE, TUDO É PERMITIDO.”
“O Antunes entendia estas coisas todas nas estrelas e sem ser por palavras recebidas no seu pensamento. Havia outros processos para a grande linguagem das estrelas chegar ao seu entendimento sem ser por meio das palavras. Não era só a cabeça, nem só o coração, nem só o coração e a cabeça juntos que se deixavam entrar assim pelas estrelas: era o seu corpo inteiro, ainda mais, a sua vida inteira que recebia as ordens de quem ele nunca havia pensado ser o único que lhas desse. Os astros mandam! E mandam uma coisa para cada um! E esta ordem sereníssima dos astros é uma verdadeira anarquia para a sociedade!”
“Universo interior!Eram grandes palavras, essas, e Jaromil ouviu-as com uma extrema satisfação. Nunca se esquecia de que coma idade de cinco anos era já considerado como uma criança excepcional, diferente das outras; o comportamento dos seus colegas de turma, que troçavam da pasta ou da camisa dele, confirmara-o, do mesmo modo (por vezes, duramente), na sua singularidade. Mas, até aqui, essa singularidade não fora para ele mais do que uma noção vazia e incerta; era uma esperança incompreensível ou uma incompreensível rejeição; mas agora, acabava de receber um nome: era um universo interior original; (...)o que lhe sugeria a ideia confusa de que a originalidade do seu universo interior não era o resultado de um esforço laborioso mas se exprimia por meio de tudo o que passava fortuitamente e maquinalmente pela sua cabeça; que lhe era dada, como um dom.”
“O darwinismo é uma teoria de processos cumulativos tão lentos que se desenrolam ao longo de milhares e milhões de anos. Todos os nossos juízos intuitivos sobre o que é provável mostram-se errados por larga margem.”
“O inferno dos vivos não é uma coisa que virá a existir; se houver um, é o que já está aqui, o inferno que habitamos todos os dias, que nós formamos ao estarmos juntos. Há dois modos para não o sofrermos. O primeiro torna-se fácil para muita gente: aceitar o inferno e fazer parte dele a ponto de já não o vermos. O segundo é arriscado e exige uma atenção e uma aprendizagem contínuas: tentar e saber reconhecer, no meio do inferno, quem e o que não é inferno, e fazê-lo viver, e dar-lhe lugar.”
“(...) houve um excesso de melodrama na minha vida, e daria tudo para conservar a paz e a tranquilidade conquistadas. A Felicidade não é uma coisa concreta – é uma qualidade do pensamento, um estado de espírito. Claro que temos os nossos momentos de depressão; mas outros momentos há, também, em que o tempo não é medido pelo relógio e se prolonga pela eternidade. Então, vendo-o sorrir para mim, sei que estamos juntos, que marchamos lado a lado, sem divergências de alma. (...)”