“O esclavagismo tem diversas versões; múltiplos regímenes. Não tem sempre a mesma forma. Nuns casos eles são escravos porque lhes dizem que o são. Esta é a escravatura honesta. Noutros casos: eles são escravos porque lhes dizem que não o são. Esta é a escravatura desonesta: a do escravo que é escravo porque o convencem de que não o é. No extremo da desonestidade temos a escravatura em que não se limitam a dizer ao escravo que o escravo não é escravo: dizem-lhe que é livre.”
“Dizem todos, e os poetas juram e tresjuram, que o verdadeiro amor é o primeiro: temos estudado a matéria, e acreditamos hoje que não há que fiar em poetas: chegamos por nossas investigações à conclusão de que o verdadeiro amor, ou são todos ou é um só, e neste caso não é o primeiro, é o último. O último é que é o verdadeiro, porque é o único que não muda.”
“O próprio são Tomás de Aquino diz isso, matarás, se necessário, matarás em nome da lei, diz Tomás de Aquino, quer dizer não é bem isso que ele diz, mas é mais ou menos isso, estou adaptando, entendeu? O que ele quer dizer é quem mata em nome da justiça não é um criminoso porque isso Não é crime, deu para entender?”
“Os chapéus também servem para isso, para esconder o cabelo. Não só quando se trata de um penteado feio, porque o melhor é esconder o cabelo sempre, até com penteados que dizem ser bonitos. O cabelo é uma parte morta do corpo. Por exemplo: quando você corta o cabelo, não dói. E, se não dói, é porque está morto. Quando alguém o puxa sim que dói, mas o que dói não é o cabelo, mas o couro cabeludo da cabeça. Pesquisei isso nas pesquisas livres com Mazatzin. O cabelo é como um cadáver que você traz em cima da cabeça enquanto está vivo. Além do mais é um cadáver fulminante, que cresce sem parar, o que é muito sórdido. Talvez quando você se converte em cadáver o cabelo já não seja sórdido, mas antes sim. Isso é o melhor dos hipopótamos anões da Libéria, que eles são calvos.”
“O homem não difere do animal senão em saber que o não é. É a primeira luz, que não é mais que treva visível. É o começo, porque ver a treva é ter a luz dela. É o fim, porque é o saber, pela vista, que se nasceu cego. Assim o animal se torna homem pela ignorância que nele nasce”
“Gostar é diferente; não me perguntes o que é gostar, o que é isso da paixão, eu sei bem e custa horrores a sarar; as paixões são funestas porque vivem, desamparados, no maior egocentrismo. Sobretudo se não se percebe como acabam.”
“Todos os que têm uma vida difícil, que são esmagados pela miséria, privados de todos os direitos, submetidos aos ricos e lacaios destes, todos, todo o povo deve ir ao encontro dos homens que por ele morrem nas prisões, que são torturados e mortos. Eles apontam a todos, sem fazerem caso dos seus interesses pessoais, o caminho da felicidade, eles não procuram enganar os outros: dizem que é um caminho difícil e não arrastam ninguém à força, mas logo que estivermos com eles, não somos capazes de deixá-los mais, porque vemos que têm razão, que esse caminho é belo e que não há outro.”