“- Não sei se interprete as suas palavras como um galanteio, se não - replicou Scarlett, indecisa.- Não se trata de nenhum galanteio - explicou ele. - Quando é que perderá essa mania de imaginar galanteios em todas as palavras que os homens lhe dirigem?- Só depois de morta - respondeu ela.E sorriu, pensando que encontraria sempre homens que lhe dirigissem piropos, mesmo que Rhett nunca o fizesse.- Presunção e água benta cada qual toma a que quer - comentou Rhett. - Graças a Deus, tem ao menos uma virtude: a de ser sincera.”
“Tal como a experiência da comunicação tem abundantemente demonstrado, o poder de mobilização da palavra oral, no imediato, em nada inferior ao da palavra escrita, e mesmo, num primeiro momento, talvez mais apta que ela a arrebanhar vontades e multidões, é dotada de um alcance histórico bastante mais limitado, devido a que, com as repetições do discurso, se lhe fatiga com rapidez o fôlego e se lhe desviam os propósitos. Não se vê outra razão para que as leis que nos regem estejam todas escritas.”
“- O vento também é eterno. Nunca acaba. Quando o vento entra no nosso corpo, nascemos, e, quando sai, é porque morremos, por isso temos de ser amigos do vento.- E...este...- Já nem sabes o que perguntar. É melhor guardares silêncio, não gastes a tua saliva. A saiva é água sagrada que o coração cria. A saliva não deve gastar-se em palavras inúteis porque então estaremos a desperdiçar a água dos deuses e olha, vou dizer-te uma cois que não deves esquecer: se as palavras não servirem para humedecer os outros a lembrança e conseguir que aí floresça a memória de deus, não servem para nada.”
“Deve-se a construção do convento de Mafra ao rei D. João V, por um voto que fez se lhe nascesse um filho, vão aqui seiscentos homens que não fizeram filho nenhum à rainha e eles é que pagam o voto, que se lixam, com perdão da anacrónica voz.”
“Sentia atração pelo que se denomina tipos fracassados, disse. Mas, que é, disse, um fracassado? Um homem que não tem, talvez, todos os dons, mas muitos, inclusive bem mais do que os comuns em certos homens de sucesso. Tem esses dons, disse, e não os explora. Ele os destrói. De modo, disse, que na realidade destrói sua vida.”
“Quem terá sido o granda maricas que inventou os sapatos? E depois de inventar os sapatos, depois de os fazer e de os calçar, onde é que ele passou a ir que não ia dantes? Que mundo de oportunidades é que se lhe abriu? Nenhum. Zero. Um gajo percebe que se tenham inventado barcos, muito bem. Carros, sim, senhor. Aviões, fantástico. Agora, sapatos? Os pés é que passaram a perder capacidades. E o cabrão do maricas ganhou um negócio, claro está.”