“Quando se ama desesperadamente uma pessoa, nunca se aceita a sua perda. E acabamos por procurar em outras pessoas bocados daquela, como se fosse possível acabar um puzzle com peças de diferentes jogos.”
“Há qualquer coisa de libertador associada à perda de tudo. Primeiro chora-se, depois fica-se atordoado; em seguida enumera-se aquilo que se perdeu e reflecte-se sobre a dureza do futuro, pensando que nunca conseguiremos obter outras coisas como aquelas que desapareceram. Finalmente, depois de tudo isso, sente-se uma estranha leveza. Sem as coisas que sempre tivemos, passamos a ser outra pessoa, qualquer pessoa, ninguém. É uma sensação esquisita, como a de estarmos embriagados, abandonando-nos à embriaguez. (..) De repente senti-me capaz de qualquer coisa, por muito arrojada que fosse.”
“Há pessoas que se afastam umas das outras quando surgem adversidades. Outras, como nós, aproximam-se ainda mais.”
“Sabe, sargento, a loucura, quando dá a um grande número de pessoas, chama-se sociedade contemporânea. Quando dá a uma pessoa só, interna-se essa pessoa.”
“Rosário nunca pensara na felicidade apenas como uma consequência natural das coisas boas que se fazem. Tal como a maioria das pessoas, sempre viu a felicidade como um objectivo por si mesma. E, tal como essa maioria das pessoas, não tinha percebido que, quando encarada como um objectivo, a felicidade torna-se demasiado grande para caber nas coisas que se fazem e passa a assombrar todas as coisas que se querem. A obsessão afasta a felicidade do coração. Ignoram-se coisas boas, porque um coração obcecado acha-as insuficientes. E, infelizmente, um coração obcecado pode não ver a felicidade quando ela está mesmo ali ao lado. Ou à sua frente.”
“Com outra - diz ele - se sentiria como essas pessoas com diploma em física nuclear ou engenharia eletrônica que acabam trabalhando de garçom.”