“Primeiramente, me espanta o fato de todos terem certeza absoluta de que você vai morrer. Eu prefiro encarar a morte como uma hipótese.”
“Estava eu a dizer ao António que o cão não passa este inverno - declarou meu pai - para ele era uma sorte se morresse.- Não morre! - disse eu, aflito.Mas Tomás aproximara-se também:Que é que tu esperas do cão? Viveu, tem de morrer.Não havia ali, porém, uma acusação. Havia só o reconhecimento de uma evidência serena. Mas justamente para mim o que era evidente não era a morte, era a vida. Como podia o cão morrer? Como podia morrer a sua pessoa?”
“Vamos lá, tornou a dizer o velho da venda preta, vamos ao que estava decidido, ou é isso, ou ficamos condenados a uma morte lenta, Alguns morrerão mais depressa se formos, disse o primeiro cego, Quem vai morrer, está já morto e nao o sabe, Que temos de morrer, sabemo-lo desde que nascemos, Por isso, de uma certa maneira, é como se já tivéssemos nascido mortos.”
“Até matar o primeiro cara a gente pensa que existe essa história de aprender a matar. Aprender a matar é como aprender a morrer, um dia você morre e pronto. Ninguém aprende a matar. Isso é conversa furada de tira. Todo mundo nasce sabendo. Se você tem uma arma na mão já sabe tudo.”
“[...] experimentaram o que era estar num purgatório, uma longa espera inerme, uma espera cuja coluna vertebral era o desamparo, coisa muito latino-americana, aliás, uma sensação familiar, uma coisa que se você pensasse bem experimentava todos os dias, mas sem angústia, sem a sombra da morte sobrevoando o bairro como um bando de urubus e espessando tudo, subvertendo a rotina de tudo, pondo todas as coisas de pernas para o ar.”
“-Você chora a morte de seu pai, Branford? - berrou novamente o pirata. - Eu choro a morte do meu! - e o pirata bateu forte duas vezes no peito. - Você sente pela morte de seus soldados? Eu sinto pela morte dos meus! Mas sabe qual é a nossa diferença, príncipe? Eu sou filho de um pirata, e você é filho de um Rei.”