“Falar. Já há demasiadas palavras neste mundo. Pouco ou nenhum silêncio.”
“Duas palavras sobre o seu trânsito mortal, para ele chegam duas palavras, ou nenhuma, preferível fora o silêncio, o silêncio que já o envolve a ele e a nós, que é da estatura do seu espírito, com ele está bem o que está perto de Deus, mas também não deviam, nem podiam os que foram pares com ele no convívio da sua Beleza, vê-lo descer à terra, ou antes, subir as linhas definitivas da Eternidade".”
“José Cortinhal foi sempre um homem muito calado, só falava quando a isso era obrigado e parecia que as palavras que conhecia eram tão poucas que estava sempre com medo que elas se acabassem. Dizia uma palavra e deixava o silêncio tomar conta dela até a asfixiar, e só depois dizia outra. O silêncio parecia também servir para falar.”
“Nada mudou. Afastada das sombras irreais da noite, ressurge a vida, na sua realidade já conhecida. Devemos retomá-la onde a deixamos e apodera-se de nós o terrível sentimento de continuidade necessária da energia no mesmo círculo monótono de hábitos estereotipados, ou então somos presas de um desejo selvagem de que nossas pálpebras se abram um dia sobre um mundo que tivesse sido refundido nas trevas para o nosso próprio prazer, um mundo onde as coisas apresentariam novas formas e cores, que teria mudado ou que teria outros segredos, um mundo em que o passado ocuparia pouco ou nenhum lugar, em que as lembranças não sobreviveriam sob a forma inconsciente de obrigação ou de pesar, uma vez que a recordação da própria felicidade oferece amarguras, assim como a lembrança do prazer já contém sua dor.”
“Ler rapidamente aquilo que o autor levou anos para pensar é um desrespeito. [...] Há frases que resumem uma vida. Por isso é preciso ler vagarosamente, prestando atenção nas idéias que se escondem nos silêncios que há entre as palavras.”
“Tapas-me a boca com os teus dedos compridos, hábeis. Dizes-me que não fale mais, que já tem palavra de mais nesse mundo.”