“Foram então procurar a KiBebucha, na casa dela da Ilha, onde ela gostava de não ficar dentro de casa, mas lá no quintal-rua, início do passeio da casa dela, onde espreitava o mar – vício dos olhos dela desde pequena. Num te falei?, isto é só grandes coisas, efeitos da natureza nas pessoas mesmo: céu, mar, lua, sol, coisas assim enormes não escapam nas vias do coração, meu. Qual é a tua inclinação? Nada, nada mesmo? Pra ti pôr do sol e pôr de merda nenhuma é a mesma coisa? E a lua de noite? Nada mesmo? Porra, meu, dás pena, quer dizer, estás neste mundo só pra o que der e vier, não queres meter o corpo e o coração nele?”

Ondjaki

Ondjaki - “Foram então procurar a KiBebucha, na casa...” 1

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“Mas, assim, pensas que isto tudo é uma confusão, circo meu das palhaçadas, cabeçadas na lógica? Ainda vais rir, mas prepara também o teu coração pra chorar, a vida é mesmo esse laço apertado, tem dias que lhe conhecemos os segredos – lhe desapertamos, outros dias lutamos só, nossas derrotas e lágrimas, e ficamos a olhar: o pescador se irrita com os nós da rede? Isto tudo que eu te falo, não é efeito do álcool, não é com três nem sete que me vais derrubar; isto tudo que eu falo é assim mesmo, a mancha da confusão, labirinto, e há que descobrir as coisas no devagar das coisas: o amor não acende um fósforo sozinho.”

Ondjaki
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“Com o Jaí foi mais rápido, nas emoções contidas dele, modo de falar dos professorados todos dele, aí a JuízaMeritíssima aproveitou pra entender algumas coisas do presente, porque vistas bem as coisas, aquela sessão tava mais radicada nos passados, que é também o modo e a maneira das pessoas viverem a vida, muadiê, num sei se já reparaste, mas isso do presente é uma só armadilha, coisa de poucos valores reais, pois o que se faz é sempre ir perguntando no futuro o que ele nos vai dar, voltar no presente, fazer as contas rápidas e espreitar no passado, outras vezes parecidas, se foi assim mesmo como o futuro está prometer, ou não é, avilo?, pra mim é tudo a mesma rede: pontas dela são os dias, bóias dela são os passados, atirar rede na água são os futuros e o peixe, o peixe? – o peixe vindouro somos nós mesmo, apanhados nas correntes marítimas do presente. Falei bonito, muadiê?”

Ondjaki
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“Cansado do universo e sociedade,Da abstracção que não finda o que é fundoDo meu fatal pôr-olhos sobre o mundo,Pobre de amor e rico de ansiedade,Já nada me seduz nem me persuade.”

Fernando Pessoa
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“Sabes o que é não sentir o coração e sentir o coração, tud’uma batida só, sangue leve no peito e lágrimas limpas a escorrer? Faz conta foste na pesca, rede e tudo, e em vez do peixe grande meteste a rede na água e te veio uma nuvem? Se é impossível? Eu sei lá, avilo, eu sei lá… Desde cadengue que ando então a ver as nuvens dançar nas peles do mar, e me pergunto: assim calminho, liso tipo carapinha com desfrise, o mar não tem nuvens dele também? De onde eu venho é muito longe, por isso, juro mesmo, nasci de novo. Vou te confessar: espanto é só aquilo que ainda nunca tínhamos vivido com nossa pele!”

Ondjaki
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“O amor é isso mesmo meu caro Kafka. Tu é que andas sempre nas nuvens e experimentas todos esses sentimentos maravilhosos, do mesmo modo que só tu é que desces ao abismo mais profundo da angústia. E o teu corpo e a tua alma têm de suportar. Estás entregue a ti próprio.”

Haruki Murakami
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