“Nada.., que a tuga até num vale a pena…! Mambo que às vezes penso – epá, vais rir, eu sei, mas é o rabo das tugas… Meu, tábua d’engomar, a xoetice toda? Rabo foi aonde então, Nzambi lhes castigou assim porquê?, nossa observação que nós fazíamos, antigas missões na tuga e noutras europas mais, comissão disto e daquilo que dava é pra tirarmos comissões no nosso bolso, e nós ali no bar, fim de tarde, sem as palavras – os olhares só: uma tuga, duas tugas, muitas tugas, mas agora pra encontrar inda um rabo de acender mesmo as vistas? Passas mal. Uí, falo isso por causa da maka das culturas, diferenças só, que eu fico mesmo a pensar que a cultura está mesmo até nos nossos olhos de pessoas, tás a rir?, gala só então: um gajo é daqui, fica a pôr riso na dança dos tugas e outros europeus, ancas desarranjadas e não dão semba, tão a falar é malcriado, mambos dos brasileiros, carnaval só. Afinal? Mas depois, considera só: eles também a nos verem dançar e vestir e pôr cu duro, num vão falar dança dos bêbados?, a dar bungula puramente e pôr açúcar e as kabetulas todas, num vão dizer estamos a ficar parecidos com os macacos?, xinguilamentos musicais? Olhos deles, muadiê, tou ta pôr, e os nossos olhos todos de cada um: culturas!, num enormes plural e final das contas.”

Ondjaki

Ondjaki - “Nada.., que a tuga até num vale a pena…... 1

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“Mas, assim, pensas que isto tudo é uma confusão, circo meu das palhaçadas, cabeçadas na lógica? Ainda vais rir, mas prepara também o teu coração pra chorar, a vida é mesmo esse laço apertado, tem dias que lhe conhecemos os segredos – lhe desapertamos, outros dias lutamos só, nossas derrotas e lágrimas, e ficamos a olhar: o pescador se irrita com os nós da rede? Isto tudo que eu te falo, não é efeito do álcool, não é com três nem sete que me vais derrubar; isto tudo que eu falo é assim mesmo, a mancha da confusão, labirinto, e há que descobrir as coisas no devagar das coisas: o amor não acende um fósforo sozinho.”

Ondjaki
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“Foram então procurar a KiBebucha, na casa dela da Ilha, onde ela gostava de não ficar dentro de casa, mas lá no quintal-rua, início do passeio da casa dela, onde espreitava o mar – vício dos olhos dela desde pequena. Num te falei?, isto é só grandes coisas, efeitos da natureza nas pessoas mesmo: céu, mar, lua, sol, coisas assim enormes não escapam nas vias do coração, meu. Qual é a tua inclinação? Nada, nada mesmo? Pra ti pôr do sol e pôr de merda nenhuma é a mesma coisa? E a lua de noite? Nada mesmo? Porra, meu, dás pena, quer dizer, estás neste mundo só pra o que der e vier, não queres meter o corpo e o coração nele?”

Ondjaki
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“Com o Jaí foi mais rápido, nas emoções contidas dele, modo de falar dos professorados todos dele, aí a JuízaMeritíssima aproveitou pra entender algumas coisas do presente, porque vistas bem as coisas, aquela sessão tava mais radicada nos passados, que é também o modo e a maneira das pessoas viverem a vida, muadiê, num sei se já reparaste, mas isso do presente é uma só armadilha, coisa de poucos valores reais, pois o que se faz é sempre ir perguntando no futuro o que ele nos vai dar, voltar no presente, fazer as contas rápidas e espreitar no passado, outras vezes parecidas, se foi assim mesmo como o futuro está prometer, ou não é, avilo?, pra mim é tudo a mesma rede: pontas dela são os dias, bóias dela são os passados, atirar rede na água são os futuros e o peixe, o peixe? – o peixe vindouro somos nós mesmo, apanhados nas correntes marítimas do presente. Falei bonito, muadiê?”

Ondjaki
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“Avoamento desses, a gente estatela e não entende; que dirá o senhor, eu contando só assim? Eu queria ir para ele, para abraço, mas minhas coragens não deram. Porque ele faltou com o passo, num rejeito, de acanhamento. Mas me reconheceu, visual. Os olhos nossos donos de nós dois. [...] O Menino me deu a mão: e o que mão a mão diz é o curto; às vezes pode ser o mais adivinhado e conteúdo; isto também. E ele como sorriu. Digo ao senhor: até hoje para mim está sorrindo.”

Guimarães Rosa
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“Num duvida só, era muita chuva, só que: aqui somos muitos também. A união faz o reforço? Meu: é no sofrimento que o sorriso dum povo fica todo semelhado – uma única boca sem rosto a rir na cara da desgraça, a lhe amolecer. Brincas? Porque desfortúnio, inundação social? – é quase sempre uma questão de olhos, olhares. Não espanta só, uí, gala inda: o imbondeiro pra ti pode ser uma árvore cambuta-seca, feia. Mas!, e se eu te emprestar outras vistas: árvores antiga-rija, bonita de ilustrar muitas vezes o sol-poente?”

Ondjaki
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