“Contudo, o mais corajoso dentre nós tem medo de si mesmo. A mutilação do selvagem tem a sua trágica sobrevivência na própria renúncia que corrompe as nossas vidas. Somos todos castigados por nossas renúncias. Cada impulso que tentamos aniquilar germina em nossa mente e nos envenena. Pecando, o corpo se liberta de seu pecado, porque a ação é um meio de purificação. Nada resta então a não ser a lembrança de um prazer ou a volúpia de um remorso. O único meio de livrar-se de uma tentação é ceder a ela. Se lhe resistirmos, as nossas almas ficarão doentes, desejando as coisas que se proibiram a si mesmas, e, além disso, sentirão desejo por aquilo que umas leis monstruosas fizeram monstruoso e ilegal. Já se disse que os grandes acontecimentos têm lugar no cérebro. É no cérebro e somente nele que têm tambem lugar os grandes pecados do mundo.”

Oscar Wilde

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“Nada mudou. Afastada das sombras irreais da noite, ressurge a vida, na sua realidade já conhecida. Devemos retomá-la onde a deixamos e apodera-se de nós o terrível sentimento de continuidade necessária da energia no mesmo círculo monótono de hábitos estereotipados, ou então somos presas de um desejo selvagem de que nossas pálpebras se abram um dia sobre um mundo que tivesse sido refundido nas trevas para o nosso próprio prazer, um mundo onde as coisas apresentariam novas formas e cores, que teria mudado ou que teria outros segredos, um mundo em que o passado ocuparia pouco ou nenhum lugar, em que as lembranças não sobreviveriam sob a forma inconsciente de obrigação ou de pesar, uma vez que a recordação da própria felicidade oferece amarguras, assim como a lembrança do prazer já contém sua dor.”


“Nossos dias são muito curtos para que tomemos, nos próprios ombros, o peso dos erros de outrem. Cada um vive a própria vida, e paga o preço de vivê-la. Em tudo, a única pena é que, com frequência, temos que pagar um preço alto por uma única falta. E, na verdade, estamos sempre a pagar. No trato com o homem, o Destino jamais encerra as contas.Há momentos, dizem-nos os psicólogos, quando a paixão pelo pecado, ou por aquilo que o mundo chama de pecado, domina de tal maneira uma personalidade, que toda fibra do corpo, e toda célula do cérebro, parece ser instinto com impulsos receosos. Nestes momentos, homens e mulheres perdem a liberdade da vontade. Como autômatos, consciência, morta, ou então, se conseguir viver, vive apenas para dar fascínio à revolta, e encanto a desobediência. Pois todos os pecados, como não se cansam de nos lembrar os teólogos, são pecados da desobediência. Quando, dos céus, cai o espírito maior, a estrela matutina do mal, é como rebelde que cai.”


“A vida não se governa pela vontade ou pelas intenções. É uma questão de nervos, de fibras, de células lentamente elaboradas, onde se oculta o pensamento e onde as paixões têm seus sonhos. Tu podes te acreditar salvo e forte; mas um tom de cor entrevisto no aposento, um céu matinal, um certo perfume que amaste e te desperta sutis recordações, um verso de um poema esquecido que te volta à memória, uma frase musical que não tocas mais, é de tudo isto, Dorian, asseguro-te, que depende a nossa existência.”


“Se o candidato for um cavalheiro, saberá o suficiente, e se não for um cavalheiro, por mais que saiba de nada lhe valerá.”


“Deus fez-nos cheios de buracos na alma e o nosso dever é tapá-los todos para navegar. O homem é um bêbedo sempre encostado à parede ou uma criança a fazer tem-tem. Toda a grandeza é um investimento em nós próprios e é por isso que os grandes têm uma grande solidão.”


“Já reparou que só a morte desperta nossos sentimentos? Como amamos os amigos que acabam de deixar-nos, não acha?! Como admiramos nossos mestres que já não falam mais, que estão com a boca cheia de terra! A homenagem vem, então, muito naturalmente, essa mesma homenagem que talvez tivessem esperado de nós durante a vida inteira. Mas sabe por que somos sempre mais justos e mais generosos para com os mortos? A razão é simples! Em relação a eles, já não há obrigações. Deixam-nos livres, podemos dispor de nosso tempo, encaixar a homenagem entre o coquetel e uma doce amante: em resumo, nas horas vagas. Se nos impusessem algo, seria a memória, e nós temos a memória curta. Não é o morto recente que nós amamos em nossos amigos, o morto doloroso, nossa emoção, enfim, nós mesmos![...] É assim o homem, caro senhor, com duas faces: não consegue amar sem se amar. Observe seus vizinhos, se por acaso ocorrer um falecimento no prédio. Adormecidos em sua vidinha, e eis que morre o porteiro. Despertam imediatamente, agitam-se, informa-se, enchem-se de compaixão. Um morto no prelo e o espetáculo começa, finalmente. Eles têm necessidade de tragédia que se pode fazer? - é sua pequena transcendência, é seu aperitivo. Será, aliás, por acaso que lhe falo em porteiro? Eu tinha um, que era uma verdadeira desgraça, a maldade em pessoa, um monstro de insignificância e de rancor que faria desanimar um franciscano. Eu nem sequer lhe dirigia a palavra, mas, por sua própria existência, ele comprometia minha satisfação habitual. Morreu, e eu fui a seu enterro. Será capaz de me dizer por quê?”