“Se Meaume fosse a natureza, teria feito apenas os relâmpagos ou a Lua ou as vagas cheias de espuma do oceano na tormenta embatendo nos rochedos negros da costa. Ou a nudez desvelada por acaso por baixo de um pano. Ou um osso de animal ou um caroço de sílex encontrado na terra.”
“(…) nada do que é manufacturado me agradada por comparação com as bruscas paisagens de Deus. (…) À Casa de Ouro ou ao tesouro do imperador Alexandre, prefiro o oceano Atlântico. O Coliseu aos pés do monte Oppio é menos belo que uma trovoada.”
“Por vezes é suficiente a bruma ou a montanha. Por vezes uma árvore que se inclina sob as rajadas do vento é suficiente. Por vezes a noite é suficiente, e não o sonho que torna presente à alma aquilo que lhe falta ou que perdeu.”
“Baltasar Mateus, o Sete-Sóis, está calado, apenas olha fixamente Blimunda, e de cada vez que ela o olha a ele sente um aperto na boca do estômago, porque olhos como estes nunca se viram, claros de cinzento, ou verde, ou azul, que com a luz de fora variam ou o pensamento de dentro, e às vezes tornam-se negros noturnos ou brancos brilhantes como lasca de carvão de pedra.”
“Bom ou mau, aquilo que sai da Paris é Paris, seja uma carta, um pedaço de pão, um par de sapatos ou um poema.”
“Digo de mim para mim: um dia a paisagem há-de atravessar-me.”
“Ele tinha a impressão de ser um pedaço de gelo que as correntes levavam para onde queriam. Mantinha a cabeça virada para a margem. Olhava a charneca na aurora onde começava a nascer e a errar a bruma. Respirava com dificuldade.”