“Não poderia deixar de adorar aquele homem sem ilusões: adorar a franqueza, o escrúpulo, a severidade, o isolamento; admirar a implacável repressão do ego infantil, a insaciável busca de aperfeiçoamento; admirar a teimosia artística e a desconfiança quanto a tudo mais; admirar o encanto oculto, do qual ele acabava de me proporcionar uma rápida visão.”
“Será que considero esta inquietação, este desvario, como uma doença - ou como um talento? Como ambos? Pode ser. Ou será que é apenas um meio de fuga? Olhe, pelo menos não me encontro casado, aos trinta e poucos, com uma criatura decente, cujo corpo deixou de ter para mim qualquer interesse genuíno - pelo menos não tenho de ir para cama todas as noites com alguém que vez por outra marreto por obrigação, ao invés de desejo. Quero referir-me à horrenda depressão que algumas pessoas experimentam na hora de ir para a cama...Por outro lado, mesmo eu devo admitir que talvez exista, de uma certa perspectiva, algo um tanto deprimente quanto à minha situação, também. É claro que não posso ter tudo; é o que me parece. A questão, porém, que desejo enfrentar é: tenho eu alguma coisa?”
“Pensando na morte de seu irmão - e no ataque mortal do pai - me peguei comparando aquele sorriso seu com um curativo sobre uma ferida.(p.75)”
“O Homem tornou-se arrogante, prepotente e insensível! Apesar de todos os avisos, o Homem não hesitou em mergulhar numa existência de imoralidade sem limites! Uma existência em que os abastados arrancam o pão da boca dos mais pobres! Uma existência em que os fortes enxovalham os mais fracos! Uma existência onde o amor pelo próximo é considerado uma fraqueza! E agora, é chegado o dia de fazê-los regressar a uma condição de proba humildade. Não percebes, Michael? O espírito do Homem foi infectado pelo vírus da corrupção e da crueldade. E o Apocalipse, por mais brutal e tenebroso que seja... é a única forma de combater essa infecção.”
“Os escassos raios de luz do crepúsculo iluminavam o mundo a tons laranja e vermelho, criando mais uma visão maravilhosa. Ivana sentia algo estranho e inexplicável, algo que nascia de uma nova vida cheia de ilusões e a única certeza que tinha era que tudo começava nos olhos verdes que a seguravam.”
“Afinal, o que seriam mais umas horas sem a admissão de culpa do homem? Uma gota no oceano.”
“O não-saber é o fundamento de tudo, ele cria o todo através de um acto que repete a cada instante, produz este mundo e qualquer outro, uma vez que está sempre a tomar como real aquilo que o não é. O não-saber é o gigantesco equívoco que serve de base a todas as nossas verdades, o não-saber é mais antigo e mais poderoso do que todos os deuses juntos.”