“O Pita tinha piedade dos grotescos que nunca amaram nem viveram, e que trazem na alma apenas restos de frases, detritos de ideias, concepções em feto.”
“A Alma existe na maioria das pessoas apenas em estado virtual. Como dizia Gurdjeff "As pessoas não têm alma precisam de a criar." Apesar do efeito de choque que esta asserção pode ter no leitor, lembremo-nos que o ser humano vive de facto como se não tivesse alma. Nós vivemos apenas através de nossos condicionamentos físicos e culturais e não da alma. Conseguir viver em função da alma é uma conditio sine qua non para a nossa liberdade espiritual. Houve uma época em que a separação consciente entre alma e corpo era muito ténue, o suficiente para ter a percepção suprasensível do universo ou, pelo menos, poder nomea-lo. Os povos arcaicos viam e viviam, então, através dos olhos da alma.”
“As minhas primeiras emoções tinham sido a melancolia mais pura e a compaixão mais sincera, mas na mesma proporção em que o desamparo de Bartleby crescia na minha fantasia, aquela melancolia se transformava em medo, e a compaixão, em repulsa. É tão verdadeiro e ao mesmo tempo tão terrivel o fato de que, ao vermos ou presenciarmos a miséria, os nossos melhores sentimentos são despertados até um certo ponto; mas, em certos casos especiais, não passam disso. Erram os que afirmam que é devido apenas ao egoísmo inerente ao coração humano. Na verdade, provém de uma certa impotência em remediar um mal excessivo e orgânico. Para uma pessoa sensivel, a piedade é quase sempre uma dor. Quando afinal percebe que tal piedade não significa um socorro eficaz, o bom senso compele a alma a desvencilhar-se dela. O que vi naquela manhã convenceu-me de que o escrivão era vítima de um mal inato e incurável. Eu podia dar esmolas ao seu corpo, mas o seu corpo não lhe doía; era a sua alma que sofria, e ela estava fora do meu alcance.”
“É preciso perder o hábito e deixar de conceber a cultura como saber enciclopédico, no qual o homem é visto apenas sob a forma de um recipiente a encher e entupir de dados empíricos, de fatos brutos e desconexos, que ele depois deverá classificar em seu cérebro como nas colunas de um dicionário, para poder em seguida, em cada ocasião concreta, responder aos vários estímulos do mundo exterior. Essa forma de cultura é realmente prejudicial, sobretudo para o proletariado. Serve apenas para criar marginais, pessoas que acreditam ser superiores ao resto da humanidade porque acumularam na memória certo número de dados e de datas que vomitam a cada ocasião, criando assim quase que uma barreira entre elas e as demais pessoas. Serve para criar aquele tipo de intelectualismo balofo e incolor, tão bem-fustigado duramente por Romain Rolland, intelectualismo que gerou toda uma caterva de presunçosos e sabichões, mais deletérios para a vida social do que os micróbios da tuberculose e da sífilis o são para a beleza e a saúde física dos corpos.”
“Morreu então, mas não teve enterro nem túmulo, pois seu espírito era tão ardente que, no momento em que escapou, o corpo caiu transformado em cinzas e se dissipou como fumaça. E seu semblante nunca mais apareceu em Arda; nem seu espírito deixou os palácios de Mandos. Assim terminou o mais poderoso dos noldor, cujos feitos originaram sua maior fama e suas piores desgraças.”
“Dos lábios que me beijaram,Dos braços que me abraçaramJá não me lembro, nem sei...São tantas as que me amaram!São tantas as que eu amei!Mas tu - que rude contraste!Tu, que jamais me beijaste,Tu, que jamais abracei,Só tu, nesta alma, ficaste,De todas as que eu amei. ”