“Este «eu» solitário que achamos nos instantes de solidão final, se ninguém o pode conhecer, como pode alguém julgá-lo? E de que serve esse «eu» e a sua descoberta, se o condenamos à prisão? Sabê-lo é afirmá-lo! Reconhecê-lo é dar-lhe razão.”
“Sabe que só o abraço da morte pode apaziguá-lo, esse abraço que ele preencherá com o corpo todo e com a alma inteira e onde enfim achará a sua grandeza; sabe que só a morte pode vingá-lo e acusar de assassínio os que o escarnecem.”
“Compreendo o senhor, disse Marco Antonio Guerra. Quero dizer, se não me engano, creio que o compreendo. O senhor é como eu e eu sou como o senhor. Não estamos à vontade. Vivemos num ambiente que nos asfixia. Fazemos como se não acontecesse nada, mas acontece sim. O que acontece? Nos asfixiamos, caralho. O senhor se desafoga como pode.”
“Disseram-me que não se pode quebrar um coração a alguém que o já tem partido. E eu pensei, pode. Podemos sempre partir os bocadinhos do coração em bocadinhos mais pequenos, amachucar ainda mais o que nos resta, como se nos tirassem o último sopro de vida.”
“Ilusão, mentira, estúpido? Mas eu é que faço a verdade e a mentira. Eu é que a crio à custa de dor. Dou-lhe o meu bafo e a minha alma. Deus cria-me a mim - eu crio Deus. Um verdade pode ser abjecta, uma mentira pode construir outro mundo - outro Universo - outro céu.”
“De onde vem a história? Da plebe. A quem se dirige? Á plebe. É o discurso que ele lhe faz muito parecido com o do demagogo: ninguém é maior do que vocês" diz este "e aquele que tiver a presunção de querer ser superior a vocês - vocês que são bons - é malvado"; e o historiador, que é seu duplo, o imita: "nenhum passado é maior do que seu presente e tudo o que na história pode se apresentar com ar de grandeza, meu saber meticuloso lhes mostrará a pequenez, a crueldade, e a infelicidade".”